Fábrica da Adubos de Portugal vai ser investigada por ser provável foco de Legionella
Ministro do Ambiente anunciou "acção inspectiva extraordinária". Em causa eventual crime ambiental.
Jorge Moreira da Silva explicou que a inspecção vai decorrer “nas próximas horas” e servirá para averiguar um “eventual crime ambiental por libertação de microrganismos para o meio ambiente”. Porém, o ministro salvaguardou que ainda não é altura de “descartar definitivamente outras hipóteses” e que é necessário aguardar pelas “amostras e análises que estão ainda em cultura”, informando que “os resultados definitivos ainda demorarão algumas horas”.
“Mas tendo em atenção as análises que foram feitas, tanto no sábado, como novamente no domingo, consideramos que um grau de probabilidade mais elevado está associado às torres de refrigeração e, no âmbito das torres de refrigeração, concretamente em relação a esta empresa”, acrescentou Jorge Moreira da Silva, citado pela Lusa.
Na manhã desta segunda-feira a subdirectora-geral de Saúde, Graça Freitas, já tinha confirmado ao PÚBLICO que havia mais locais, além da fábrica da Solvay, onde foram detectados vestígios de Legionella. As atenções centram-se agora na Adubos de Portugal, cujas torres de refrigeração foram encerradas no fim-de-semana, tal como as das outras grandes fábricas de Vila Franca de Xira.
Antes das declarações de Jorge Moreira da Silva, o delegado de saúde regional de Lisboa e Vale do Tejo tinha adiantado que as autoridades de saúde já tinham uma “ideia concreta” do foco que poderá ter dado origem ao surto de Legionella que desde sexta-feira tem entupido vários hospitais, sobretudo o de Vila Franca de Xira. Contudo, António Tavares remetia mais explicações para o comunicado da Direcção-Geral da Saúde, que é esperado para o final da tarde.
Questionado posteriormente pelo PÚBLICO sobre se a ideia que referiu corresponde à fábrica mencionada pelo ministro do Ambiente, António Tavares escusou-se a confirmar a informação, mas garantiu que as autoridades de saúde e ambiente estão coordenadas e que com as condições de vento naquela zona de fábrica é possível que a bactéria se desloque dentro do raio em que têm sido detectados os casos e que estão sobretudo concentrados nas freguesias do Forte da Casa, Vialonga e Póvoa de Santa Iria.
Numa altura em que a infecção já conta com pelo menos 264 doentes, cinco dos quais acabaram por morrer, o delegado explicou que tem sido feito um “inquérito epidemiológico aos doentes, para perceber ligações no tempo no espaço” entre quem está infectado. Desde o fim-de-semana também foram feitas mais de 100 análises para procurar o foco do surto. “Tentámos procurar o possível foco de risco em empresas, fábricas, água de distribuição, fontes ornamentais…pois a Legionella tem origem ambiental e concretamente em meio hídrico”, explicou o especialista. António Tavares ressalvou que as análises demoram, em média, cinco dias a ficar totalmente concluídas, mas explicou que os dados preliminares já dão para detectar a presença da bactéria e recolher pistas.
Fábrica foi local de palestra da DGS
Foi precisamente na Adubos de Portugal que o director-geral da Saúde esteve na segunda-feira a dar uma palestra sobre a doença do legionário a todos os trabalhadores desta fábrica, numa sessão em que puderam expor as suas dúvidas.
A palestra foi feita por iniciativa de Francisco George, que quis deslocar-se ao local para acalmar os trabalhadores, depois de se ter sabido que desde sábado tinham surgido pelo menos seis casos de Legionella nesta fábrica. Aliás, logo no sábado, a empresa desligou as torres de refrigeração – o local onde a bactéria encontra normalmente condições para criar uma colónia. As torres foram também desinfectadas e seladas, o que poderá influenciar os resultados das análises.
O PÚBLICO contactou a Adubos de Portugal, mas ninguém quis prestar esclarecimentos.
O surto de Legionella em Vila Franca de Xira causou cinco mortos. A Organização Mundial de Saúde já qualificou este surto como uma "grande emergência de saúde pública".
A doença do legionário não é rara em Portugal (morreram 86 pessoas nos últimos nove anos e foram registadas mais de 1000 infecções), mas desta vez assumiu uma dimensão pouco habitual. Esta bactéria já apareceu em vários locais do mundo, tendo a primeira manifestação sido detectada em 1976 nos Estados Unidos na sequência de um congresso de legionários que acabou por dar o nome à doença. Mas mesmo nessa altura houve apenas 221 casos e 34 mortos.