Ex-aluno que feriu professora com machado aguarda julgamento em liberdade

Jovem irlandês atacou docente da Universidade de Coimbra por esta se ter recusado a assumir-se como sua orientadora de doutoramento e a passar-lhe uma declaração para efeitos de candidatura a bolsa.

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Adriano Miranda

A vítima, a professora Filomena Pinto Santos, de 54 anos, foi submetida ainda na segunda-feira a uma intervenção cirúrgica no Centro Hospitalar Universitário  de Coimbra, na sequência dos golpes que o ex-doutorando lhe terá infligido num braço. Apesar de pouco profundos, os golpes atingiram tendões, tornando necessária a cirurgia. A docente está a recuperar bem e não corre risco de sofrer perdas de mobilidade do braço.

O presumível agressor, o ex-aluno Colin Paul Gloster, de 34 anos, dirigiu-se às 16h de segunda-feira ao gabinete da vítima, no 4.º andar do Departamento de Física da Faculdade de Ciências e Tecnologia, onde lhe exigiu que assinasse uma declaração destinada a uma candidatura do doutorando a uma nova bolsa da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) — o formando perdera a bolsa anterior — e que aceitasse ser sua orientadora de doutoramento.

Perante a recusa de Filomena Santos de aceder às suas exigências, o ex-aluno concretizou as ameaças que já fizera, minutos antes, nos serviços académicos da Universidade de Coimbra, onde chegou a mostrar a uma funcionária o pequeno machado, novo em folha, que levava consigo. Aqui, apesar de revoltado com a notícia da perda da bolsa da FCT, não chegou a usar o machado, que ainda tinha uma etiqueta visível. Mas já não se coibiu de o utilizar pouco depois no gabinete de Filomena Santos, na presença de outras pessoas, nomeadamente de outro doutorando que enfrentou o agressor e protegeu a professora. Colin foi detido pouco depois pela polícia, passando a noite na 2.ª esquadra da PSP de Coimbra.

Descrito nos meios académicos como um jovem agressivo e anti-social, Colin Paul Gloster reagiria mal às tentativas de aproximação dos colegas e não admitia que alguém tocasse nas suas coisas. Dele referem-se ainda uma preocupação constante em manter as mãos lavadas. Outros dados que sugerem que o jovem não se encontrava bem têm a ver com os seus resultados académicos, que passaram de excelentes a medíocres, e com a circunstância de se ter incompatibilizado com o primeiro orientador de doutoramento. Deixou há dias de ser aluno da Universidade de Coimbra por não ter apresentado a tese no prazo estipulado.

Ouvido pelo PÚBLICO nesta terça-feira, o reitor da UC, Jorge Gabriel Silva lamentou que o tribunal não tivesse adoptado “medidas mais protectoras” da academia — que diz estar “apreensiva” — proibindo o jovem de entrar em qualquer espaço da universidade. “Até porque ainda não é evidente que não pretenda causar mais estragos”, reforçou o reitor, avançando que emitiria um despacho a interditar o acesso do ex-aluno à generalidade das instalações da UC e tentaria esclarecer por que não o havia feito o tribunal.

Na UC está ainda presente o caso do aluno que, em Fevereiro, depois de pontapear carros e de ameaçar outros estudantes com uma caçadeira, foi detido e libertado, para logo regressar ao Departamento de Engenharia e voltar a perseguir a colega a quem pedia namoro desde o Verão. Foi condenado em Maio a 300 dias de multa e transferiu-se, entretanto, para outra universidade.

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