Director-geral da Saúde ameaça sair se não tiver apoio do Governo e do Parlamento no plano contra o ébola

Francisco George diz que documento da Ordem dos Médicos sobre ébola “não vai perturbar” o trabalho da DGS.

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Francisco George Pedro Nunes

O responsável da Direcção-Geral da Saúde (DGS), que falava nesta quarta-feira da comissão parlamentar de saúde, na sequência de um requerimento do PS, referia-se ao documento da Ordem dos Médicos divulgado na terça-feira e em que o Colégio da Especialidade de Saúde Pública manifestava preocupação com a forma como as autoridades de Saúde portuguesas têm lidado com o problema da infecção pelo ébola e considerva que têm passado “mensagens de enganosa tranquilidade” à população.

No parecer muito crítico relativamente ao que tem sido feito até à data em Portugal para enfrentar a eventual entrada de doentes com ébola, Pedro Serrano, que preside a este grupo de especialistas e assina o documento, defendia que o país não está preparado para lidar com a possibilidade de importação de casos, um “risco teórico” que é “alto”, no seu entender, dadas as relações de proximidade com os países africanos de língua oficial portuguesa.

Ainda a este propósito, perante os deputados, Francisco George insistiu que “o risco é baixo” e que “o documento da ordem cita um cenário que não existe hoje”. Mas salvaguardou que as suas declarações são válidas no dia em que fala, 15 de Outubro, podendo ser revistas se houver alterações nos países afectados pela epidemia que tem foco na Libéria, Serra Leoa, Nigéria e Guiné-Conacri.

O director-geral da Saúde considerou que a sua presença na comissão de saúde desta quarta-feira é “a mais importante intervenção” que faz em 14 anos à frente daquele organismo. Por isso mesmo, defendeu que o trabalho só pode ser feito se “estivermos absolutamente juntos neste processo”. “Se o nosso dispositivo montado pela DGS não tiver o apoio e a simpatia dos membros do Governo e da Assembleia da República mudam-se os dirigentes da DGS”, afirmou George perante os deputados e acompanhado pelo presidente do Instituto Nacional de Emergência Médica, pelo presidente do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge e pelo director do Serviço de Infecciologia do Hospital Curry Cabral, uma das unidades de referência para o combate ao ébola. “Se isto [o plano contra o ébola] correr mal não é uma questão do Ministério da Saúde, do primeiro-ministro, nem do Presidente da República, nem dos grupos parlamentares. A responsabilidade é nossa, do dispositivo de coordenação”, assegurou George.

George admitiu que a epidemia está “descontrolada” na África Ocidental e disse “que quanto maior o número de casos maior o risco”. Ainda assim, insistiu que “há um risco aumentado, mas o risco na Europa mantém-se baixo”. Depois, perante as questões dos deputados sobre o que tem sido feito, garantiu que têm dado formações transversais junto de entidades como as Forças Armadas e a Administração Interna. “Mas nesta fase decidimos que a Protecção Civil não deve ser mobilizada porque o risco que admitidos nesta semana é baixo em termos de probabilidade de entrarem doentes do epicentro”, acrescentou, admitindo ainda assim que “se a epidemia invadir a Guiné Bissau o risco eleva-se, pois estamos para a Guiné como os Estados Unidos estão para a Libéria”. “O risco da Guiné Bissau é naturalmente importante para nós”, reforçou.

De acordo com o director-geral da Saúde, o plano português passou por preparar três bases de ambulâncias, em Lisboa, Porto e Coimbra, com “12 tripulantes muito bem treinados e disponíveis 24 horas”. Porém, George insistiu que o combate ao ébola deve ser feito, sobretudo, nos países afectados. “Quanto mais resolvermos o problema na África Ocidental mais seguros estaremos. Quanto maior o descontrolo, maior o risco de importação de doenças”, explicou, acrescentando que não se deve confundir as condições sanitárias nos países afectados e nos países europeus e apelando a que não se alarme a população sem justificação.

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