Direcção-Geral da Saúde lança projecto para acompanhar pessoas que vivem sozinhas em risco
O projecto envolve várias estruturas e tem como objectivo sinalizar e acompanhar situações de risco, entre pessoas que vivem sozinhas, de todas as idades, tanto em zonas rurais como urbanas. Arranca para o ano em 13 concelhos, mas o objectivo é estender progressivamente ao resto do país
Álvaro de Carvalho adianta que a proposta foi recentemente introduzida no plano de actividades do próximo ano e estabelece o compromisso de, a partir de 2014, criar um indicador que permita, de forma progressiva, sinalizar as pessoas que vivem sozinhas nas cinco regiões de saúde do país: Lisboa e Vale do Tejo, Algarve, Alentejo, Norte e Centro. Numa primeira fase, no próximo ano, o projecto avançará em três concelhos em cada uma das regiões de Lisboa, Algarve e Alentejo, e em dois concelhos de cada uma das regiões do Centro e Norte do país. No total, serão para já 13 os concelhos abrangidos pela medida, embora ainda não se saiba quais, uma vez que essa escolha passará também pelas administrações regionais de saúde (ARS).
Apesar de ser uma proposta da DGS e de contar com o apoio das ARS, a ideia é envolver autarquias, redes sociais, forças policiais, bombeiros, Segurança Social, Igreja, escuteiros, entre outras estruturas das comunidades locais, esclarece Álvaro de Carvalho. Isto porque, depois do levamento dos casos, o passo seguinte é a intervenção junto daqueles que evidenciem risco de depressão, suicídio, ou abandono. Apesar de este programa abranger todas as pessoas que vivem sozinhas, “velhas ou novas”, as intervenções serão sobretudo dirigidas, entre outras situações, a pessoas com incapacidades físicas ou que não tenham qualquer rede de apoio, familiar, de vizinhança ou amigos.
A ideia é “mapear as pessoas que vivem sozinhas” e, depois, avaliar os casos, de forma a elaborar um plano de intervenção individual, monitorizando as situações de risco. “Sempre houve idosos, e não só, a viverem sozinhos, mas provavelmente muitos deles não estão detidos em casa, sem família ou amigos que os procurem”, diz Álvaro de Carvalho. A “comunicação regular” que se pretende estabelecer com as pessoas identificadas como estando em situação de risco será feita através de visitas domiciliárias, telefone, entre outros meios considerados adequados.
Além de abranger pessoas de todas as idades, a proposta da DGS pretende chegar a todas zonas, rurais, urbanas e suburbanas: “É um desafio às autarquias e às redes sociais concelhias, da sinalização e monitorização das pessoas que vivem sozinhas, mesmo em meios suburbanos, em que a situação não é menos dramática do que no Alentejo. Vão aparecendo pessoas que morrem e que estão há semanas ou meses... E tem que ver exactamente com esta circunstância de a situação de crise agravar o risco de suicídio e de depressão”, diz Álvaro de Carvalho, consciente de que criar um projecto nacional desta envergadura é um grande desafio, uma vez que há cada vez mais idosos e gente de todas as idades a viver sozinhos.
Mais pessoas sozinhas
O levantamento do número de pessoas que vivem sozinhas, por si só, é algo que já é feito pelo Instituto Nacional de Estatística, existindo ainda os Censos Sénior, que dizem respeito aos idosos e também prevêem a sinalização das situações de risco. Segundo dados do INE, o número de pessoas que vivem sós tem vindo a aumentar – de 12% em 1960 para 20% em 2011.Já a Operação Censos Sénior, que decorre nas áreas da responsabilidade da Guarda Nacional Republicana, sinalizou, entre 15 de Janeiro e 28 de Fevereiro, 28.197 idosos a viverem sozinhos ou em situação de isolamento, um aumento de 22,6% comparativamente com 2012. Desde a primeira edição da operação, em 2011, o número aumentou em 12.601 casos.
Também há municípios que já têm no terreno programas de sinalização e monitorização semelhantes, envolvendo várias estruturas, para além de existirem em vários concelhos projectos avulsos de apoio, por exemplo, a idosos. “São iniciativas locais. A nossa proposta é que isto seja por nossa iniciativa, que seja desenvolvido e alargado a todo o território nacional”, frisa o director do Plano Nacional de Saúde Mental da DGS, salientando que os municípios que puseram em prática programas semelhantes têm tido resultados “muito bons” na prevenção da depressão e do suicídio.
Apesar de coordenado pela DGS, na prática serão as ARS a gerir o processo, em articulação com as redes sociais concelhias: “As ARS só vão gerir o processo, quem centraliza e toma conta da informação são as redes sociais de cada município”, ressalva Álvaro de Carvalho, frisando que não será a DGS a receber os dados. “As ARS vão apoiar esse desenvolvimento, mas essa centralização é feita em cada município, através da Rede Social que é uma estrutura formal que existe, ou deve existir, em todos os concelhos e que agrega todas estas entidades”, sublinha.
Para já, não há datas para o alargamento total do projecto ao país: “Só depois da avaliação do primeiro ano poderemos planear a sequência”, ressalva Álvaro de Carvalho, explicando que o que está definido é um “desenvolvimento em mancha” pelo país, de acordo com a avaliação feita após o arranque da intervenção.