Uma prova “fácil” no dia da estreia de 107 mil alunos nos exames

No geral, os alunos consideram que a segunda parte do exame nacional de Português foi mais fácil que a primeira. Como tinham que regressar à escola com os professores, houve pouco tempo para contar aos pais como correu.

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A Eugénio dos Santos, em Lisboa, só esteve aberta para os alunos que fizeram exames José Sarmento Matos
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Além dos enunciados, os alunos receberam também uma lista de regras para os exames José Sarmento Matos

Finalizado o exame, Ana Sofia Rodrigues é a primeira criança a aparecer à porta da escola. “Está aí a minha mãe?”, grita do alto da escadaria que dá acesso ao edifício principal. Solta um sorriso depois de dar um abraço à mãe que, à semelhança de uma dezena de outras progenitoras, esperava para saber como tinha corrido o primeiro exame da filha.

“Em vez de voltar para a escola com os outros meninos, preferi ir com a minha mãe para estar um bocadinho com ela”, explica Ana Sofia.

Enquanto passava uma pequena mala cor-de-rosa de uma mão para a outra, conta que “a segunda parte do exame era mais fácil que a primeira”. A prova, dividida em duas, avaliava conteúdos gramaticais e de interpretação de texto e, depois de 15 minutos de intervalo, os alunos voltavam à sala para escrever uma composição.

“Na primeira parte, o mais fácil foi escrever verbos no pretérito perfeito, mas gostei mais do segundo caderno. Tínhamos que escrever sobre uma sereia que ia fazer uma viagem à superfície, com uma gaivota. O mínimo de palavras era 90 e eu escrevi 130”, diz Ana Sofia.

“Eu escrevi 104”, retorquia Carolina Magalhães, mais envergonhada. Concorda com a colega, diz que a segunda parte era mais fácil e confessa que não estava nervosa antes do exame. “A minha mãe disse-me para não ficar nervosa a meio e para passar à frente se não soubesse responder a alguma coisa.”

Ana Sofia e Carolina foram das poucas crianças a ir com os pais para casa depois da prova, já que as restantes voltaram para a escola a pé, em filas de “dois a dois” lideradas pelos professores. Com pouco tempo para contar aos pais como correu, algumas crianças fugiam das filas para beijos, abraços e, rapidamente, para dizer que “era fácil”. 

A avó “Dudu”, assim lhe chamam, também esperou à porta para dar um beijinho ao neto. Traz bolos para dividir pelas crianças e apressa-se a pôr tudo para dentro de um saco de plástico quando percebe que os alunos não podem ficar parados perto do portão. “Ai, esperem aí, que eu vou também”, diz, e corre para acompanhar o grupo.

A escola fechou para os alunos que ali costumam ter aulas e as crianças de cinco escolas do primeiro ciclo do ensino básico usaram 12 das salas do edifício principal. Entre si, duas funcionárias contam pelos dedos para concluírem que “as salas estavam todas ocupadas”.

“Parecia que vinham para uma excursão”
Ana Moutinho tem consigo a mochila azul eléctrico da filha Mariana. Foi levá-la àquela escola, tarefa que estava a cargo dos encarregados de educação, e aguardou só para “dar apoio”, uma vez que a aluna vai voltar com a turma para a escola.

“Isto foi uma operação mega-logística. Podiam perfeitamente ter feito isto nas escolas deles, num ambiente mais protegido”, diz, e acrescenta que “havia algum grau de tensão, mas os miúdos até vinham calmos, parecia que vinham para uma excursão”.

“Muito positiva” foi a expressão usada pelo ministro da Educação para descrever a forma como decorreram os exames desta terça-feira, com Nuno Crato a assegurar não ter havido problemas em nenhuma zona do país.

“Até este momento, todas as informações que temos, do país inteiro, são muito positivas e não há nenhum incidente”, disse o ministro no final de uma visita a uma escola de Rio Maior onde se realizaram exames.

Crato aproveitou também para desvalorizar as críticas à forma como as provas foram organizadas, obrigando à deslocação de milhares de alunos em todo o país e fazendo com que muitos outros estudantes de outros ciclos de escolaridade ficassem hoje sem aulas. “Esses críticos estão mais nervosos que as crianças”, sustentou o ministro, citado pela agência Lusa.

Com este exame e com o de Matemática, já na próxima sexta-feira, as crianças cumprem “uma etapa crucial” e concluem um ciclo de escolaridade cujo sucesso “é importante para eles e para o país”, concluiu.

Já a Federação Nacional dos Professores (Fenprof) mostrou-se desagradada com a forma como os exames do 1.º ciclo foram organizados. Em comunicado divulgado nesta terça-feira, a Fenprof afirma que “nem a preparar este atropelo pedagógico o Ministério da Educação foi competente e, por essa razão, obrigou pais a transportarem os seus filhos para os locais de exame e crianças a assinarem declarações de honra sobre a não utilização de telemóveis”.

O exame foi vigiado por cerca de dez mil professores, de um ciclo diferente daquele que os alunos frequentam e de uma disciplina que não Português. Os resultados serão conhecidos a 12 de Junho e irão ter um peso de 25% na nota final dos alunos. Os que não conseguirem atingir os objectivos terão aulas de recuperação, com um acompanhamento mais individualizado, de forma a conseguir a aprovação na segunda fase das provas, que se realiza entre 9 e 12 de Julho.

Este cenário repetiu-se por todo o país. No total, 755 polícias entregaram os exames em 708 escolas e agrupamentos urbanos. Nas restantes escolas, a tarefa esteve a cabo dos militares da GNR.

Notícia actualizada às 14h33: acrescenta posição do ministro da Educação, Nuno Crato, sobre a forma como decorreram os exames

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