De banqueiro acidental a ex-ministro condenado

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Armando Vara em 2001

Transmontano, natural de Lagarelhos, Vara subiu os degraus do poder (deputado, secretário de Estado, ministro)  ao lado de José Sócrates. É desde 1987 dirigente socialista, tinha apenas o liceu e trabalhava numa agência da Caixa Geral de Depósitos. Chega à presidência da distrital de Bragança, tomando o pulso ao aparelho partidário. Anos depois é chamado a ocupar cargos nos Governos de António Guterres.

Em 1998, numa visita a Ourique como secretário de Estado, desentendeu-se com o então presidente da câmara José Raul Santos, do PSD. Foi acusado de injúrias e difamação num processo em que acabou amnistiado. Por conta ainda deste caso, mas numa acção cível, foi condenado a pagar uma indemnização de 450 contos ao autarca. O julgamento ficou marcado pelo desfilar de testemunhas a garantir que, em Trás-os-Montes, onde Vara cresceu, algumas das palavras por si dirigidas a José Raul Santos não eram consideradas insultuosas.

Armando Vara é próximo de Sócrates, mas também de Jorge Coelho, Edite Estrela, Laurentino Dias. Notícias não negadas têm-no dado como estando ligado à maçonaria do Grande Oriente Lusitano.

No seu percurso atribulado destaca-se o aparecimento na Ponte 25 de Abril para apoiar o buzinão de contestação ao cavaquismo. Amigo de Joaquim Oliveira, da Olivedesportos, Vara surge associado ao mundo do futebol e são conhecidas as tentativas para o levar até à liderança do seu Benfica. Em vão.

O curriculum académico é feito no princípio da década, com a licenciatura em 2005 em Relações Internacionais na Universidade Independente, a mesma onde Sócrates se diplomou. Preparava-se para assumir novos desafios.

O regresso à CGD para ocupar o lugar de director dá-se em 2001. A mudança de “sector” reduz-lhe a exposição mediática, resguarda-o do cansaço do escrutínio público e oferece-lhe remunerações apetitosas.

Em 2005, o PS de José Sócrates ganha as legislativas. Vara tem 51 anos quando é nomeado administrador da CGD. Toma posse no meio de grande controvérsia: um job para um boy?

É certo que a alta finança é um espaço de encontro entre a política e os grandes interesses económicos, porque os negócios necessitam das autorizações governamentais. Uns dizem que faz parte do “polvo” socialista, outros pensam o contrário. Mas Vara vai procurar fazer esquecer a desconfiança que se gerou à sua volta, trabalhando.

Dizem que é discreto. Há quem sublinhe que a vida o ensinou a não ter tiques de vedetismo. Os colaboradores são quase unânimes ao concluir que no banco é ele quem decide: “É um profissional.” Se há quem diga “nim”, Vara diz sim ou não. E avança.

É neste contexto que em 2008 chega à vice-presidência do BCP, por convite do socialista Santos Ferreira. A transição da CGD para o BCP deixa rasto, quando se apura terem sido dados créditos em larga escala a accionistas do BCP para que estes entrassem na disputa pelo controlo do banco. Em troca, a CGD recebeu acções cotadas. Com a crise, o banco assumiu menos-valias de centenas de milhões de euros, o que levou o Estado a aumentar o capital. Mesmo as vozes hostis do sector reconheciam a Vara, no momento em que o escândalo rebentou, um gosto por resolver problemas.

Mas Armando Vara tem marcas que não são fáceis de apagar: ascendeu a banqueiro com o “rótulo” de emissário político e o seu comportamento no passado nunca foi visto, mesmo de entre os accionistas do BCP, como sendo à prova de bala. Em 2001, já como ministro da Juventude e Desporto, foi apanhado na polémica à volta da Fundação para a Prevenção e Segurança, uma instituição privada que criou no final dos anos 1990, com recurso a fundos estatais doados, quando estava no Governo de António Guterres como secretário de Estado da Administração Interna.

Quando o caso é conhecido, o então Presidente da República Jorge Sampaio batalhou para que Vara deixasse o Governo. Na sequência, o então ministro demitiu-se. Em causa estavam irregularidades administrativas, e não criminais, e o processo foi arquivado. Hoje, Vara voltou às páginas dos jornais. Aos olhos do grande público a desconfiança antiga materializou-se hoje com uma condenação em tribunal. com Álvaro Vieira

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