Conferência Episcopal garante que Igreja "não tem nada contra" casamentos inter-religiosos

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Manuel Marujão salientou que D. José Policarpo tem sido o maior promotor em Portugal do diálogo inter-cultural e inter-religioso PÚBLICO (arquivo)

O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, D. Jorge Ortiga, garantiu hoje que a Igreja "nada tem contra" os casamentos inter-religiosos. Antes, já o secretário do mesmo organismo, Manuel Morujão, tinha considerado que a advertência do Cardeal Patriarca às jovens portuguesas que pensem casar com muçulmanos foi um "justo conselho de realismo" e não "discriminação ou menosprezo" pelo islamismo.

Sem comentar directamente as declarações do cardeal D. José Policarpo que alertava para os riscos dos casamentos com muçulmanos, D. Jorge Ortiga reconheceu que essas uniões "vão acontecendo" um "pouco por toda a Europa" e "Portugal não é excepção".

No entanto, "alertamos a quem se quer casar pela Igreja" que o cônjuge "não se pode opor à educação católica", explicou.

De resto, as "pessoas podem encontrar compromissos" no respeito da fé de cada um podendo existir casamentos entre católicos e "hindus, muçulmanos, judeus ou evangélicos". "Tem é que haver um cuidado nos processos" no "sentido do respeito e liberdade de cada um", alertou D. Jorge Ortiga.

Secretário da Conferência episcopal desdramatiza incidente

Já antes, o secretário da Conferência Episcopal Portuguesa, Manuel Morujão, afastou qualquer "discriminação ou menosprezo" pelo islamismo nas palavras de D. José Policarpo. "É um conselho de imprescindível realismo que seguramente qualquer um de nós de cultura ocidental e de religião cristã, ou então de cultura árabe e de religião muçulmana, daria para bem de ambas as partes e das respectivas famílias", sublinhou o padre Manuel Morujão.

O porta-voz lembrou ainda que as declarações de D. José Policarpo surgem numa conversa informal e recordam a importância do diálogo entre religiões. "As declarações, proferidas num clima informal de 'tertúlia' e não numa conferência magistral, confirmam que este diálogo é importante, mas advertem para as dificuldades do mesmo diálogo, concretamente com os muçulmanos", adiantou o padre Manuel Morujão.

O religioso salientou ainda que D. José Policarpo tem sido o maior promotor em Portugal do diálogo inter-cultural e inter-religioso nos seus escritos e nas suas intervenções orais.

O padre Manuel Morujão lembrou que o Papa João Paulo II afirmou que o futuro no mundo depende do diálogo entre culturas e entre religiões. "Bento XVI tem feito declarações na mesma linha. Advertir para as dificuldades do diálogo não é dizer que não se faça, mas promover o realismo necessário que o possibilite e o torne eficaz", salientou.

"Pensem duas vezes em casar com um muçulmano"

Falando na tertúlia "125 minutos com Fátima Campos Ferreira", que decorreu no Casino da Figueira da Foz, D. José Policarpo deixou um conselho às jovens portuguesas quanto a eventuais relações amorosas com muçulmanos, afirmando: "Cautela com os amores. Pensem duas vezes em casar com um muçulmano, pensem muito seriamente, é meter-se num monte de sarilhos que nem Alá sabe onde é que acabam."

Questionado sobre se não estava a ser intolerante perante a questão do casamento das jovens com muçulmanos, D. José Policarpo disse que não.

"Se eu sei que uma jovem europeia de formação cristã, a primeira vez que vai para o país deles é sujeita ao regime das mulheres muçulmanas, imagine-se lá", ripostou D. José Policarpo à jornalista e anfitriã da tertúlia, manifestando conhecer "casos dramáticos" que, no entanto, não especificou.

Na sua intervenção, o Cardeal Patriarca de Lisboa considerou "muito difícil" o diálogo com os muçulmanos em Portugal, observando que o diálogo serve para a comunidade muçulmana demarcar os seus espaços num país maioritariamente católico.

"Só é possível dialogar com quem quer dialogar, por exemplo com os nossos irmãos muçulmanos o diálogo é muito difícil", disse D. José Policarpo durante a tertúlia.

Respondendo a uma pergunta sobre se o diálogo inter-religioso em Portugal tem estado bem acautelado, o Cardeal Patriarca sublinhou que, no caso da comunidade muçulmana, "estão-se a dar os primeiros passos".

Notícia actualizada às 12h41
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