Cidadania

Este ano há eleições e já começam a surgir os primeiros discursos dos políticos, embora tardem compromissos claros sobre o que é importante para todos nós.

A cidadania, condição de uma pessoa que, como membro de um estado, se acha no gozo de direitos que lhe permitem participar na vida política, não é muito exercida em Portugal. Em muitos casos, persiste a velha oposição entre “nós” e “eles”, na qual os políticos são sempre sentidos como diferentes dos outros cidadãos e totalmente responsáveis pelo que de mal acontece. Decisões recentes no âmbito da justiça estão a dar ao cidadão comum a ideia de que a justiça está finalmente a não distinguir entre ricos e pobres: é assim que muita gente saúda a aparente maior firmeza e isenção dos magistrados, embora ainda seja cedo para concluirmos se os processos mais mediáticos conduzirão a sentenças justas e respeitadoras das provas encontradas.

No quotidiano da escola e da família, a cidadania precisa de ser incentivada. Nos estabelecimentos de ensino, essas matérias são agora consideradas secundárias, porque houve a preocupação recente de tudo reduzir às disciplinas ditas “fundamentais” ou “estruturantes”, com os resultados que estão à vista: a indisciplina aumenta todos os dias, abundam os resultados medíocres e a desmotivação de alunos e professores é a regra.

Precisamos de exigir aos políticos menos decisões de “cima para baixo”, sustentadas em legislações complexas e difíceis de entender. É necessário demonstrar que excesso legislativo diminui a iniciativa e encoraja a ideia de fazer o mínimo, sem preocupação com o serviço em causa e sem entusiasmo em fazer melhor. A verdade é que uma sociedade moderna e motivadora exige que os cidadãos exerçam a sua responsabilidade social e sejam capazes de reconhecer as necessidades dos outros, sem o qual o individualismo e a falta de sensibilidade social aumentarão todos os dias.

A responsabilidade social começa a formar-se na infância, através do relacionamento das crianças com os adultos em seu redor. A capacidade de reconhecer os limites do seu comportamento e as necessidades dos outros é uma meta essencial da educação dos mais novos, a iniciar na família desde os primeiros anos e a continuar na escola. Para uma sociedade se desenvolver com justiça e equidade, as soluções obtidas pelo controlo externo (por exemplo, através do sistema legal) têm de estar equilibradas com as decisões dos indivíduos e dos seus grupos, tendo em conta as suas aspirações e o necessário controlo interno. Os políticos que tiveram êxito foram justamente aqueles que foram capazes de conseguir esse justo equilíbrio.

As causas dos comportamentos antissociais, contrários a uma cidadania activa e responsável, devem ser combatidas desde muito cedo. Muitos dos jovens delinquentes provêm de famílias onde a desagregação, a violência e o abandono das crianças criaram o contexto propício à continuação desses comportamentos desajustados, sem que tivessem surgido iniciativas impeditivas dessas trajectórias.

Para evitar essa evolução negativa, é preciso introduzir programas de educação e apoio aos pais, acções de formação junto de educadores e professores, medidas concretas de incentivo às propostas inovadoras das famílias e, sobretudo, veicular mensagens de responsabilização individual em todos os sectores. Estas iniciativas custam dinheiro à partida, mas poupam a longo prazo, facto muitas vezes esquecido.

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