Cerca de 30% dos cursos superiores receberam 10 ou menos alunos

Fenprof diz que cursos de educação são menos procurados porque as pessoas têm medo da “instabilidade”. Bastonário dos Engenheiros critica aparecimento de cursos "como cogumelos"

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Enric Vives-Rubio

Os resultados do acesso ao ensino superior público, divulgados na madrugada deste domingo, não são ainda definitivos. Há mais duas fases do concurso nacional, e mais estudantes acabarão por entrar. Mas a 1.ª fase é, de longe, a mais concorrida.

A área das engenharias foi a que registou mais vagas por ocupar (3431). O bastonário da Ordem dos Engenheiros, Carlos Matias Ramos, já veio a público apontar o dedo ao poder político: “Foram criados cursos como cogumelos, com o nome de engenharia. E sem uma estruturação adequada e uma forma inteligente de desenvolver cursos com empregabilidade fácil, a oferta foi muito superior à procura”, disse à TSF.

Os cursos na área da formação de professores e ciências da Educação também sofrem uma redução das taxas de ocupação: 66% das vagas preenchidas (com 813 candidatos), contra 74% no ano passado. Houve menos 300 alunos a manifestar como primeira preferência a entrada num curso desta área.

O secretário-geral da Federação Nacional dos Professores (Fenprof), Mário Nogueira, atribuiu a quebra à “desvalorização” da profissão docente e à “instabilidade” laboral.

“Desde que os governos começaram a fazer aumentar o desemprego dos professores e desvalorizaram as carreiras, criaram um clima de instabilidade e precariedade enormes”, disse Mário Nogueira à Lusa. “Ainda para mais sabendo as pessoas que este Ministério da Educação não os vai reconhecer como professores”, continuou, referindo-se à prevista introdução de uma prova de acesso à carreira docente.

Politécnicos mais afectados
De acordo com os dados divulgados pela Direcção-Geral do Ensino Superior (DGES), apenas 55% das vagas dos institutos politécnicos foram ocupadas na 1.ª fase. E muitos dos cursos sem novos ingressos estão aí. Há mais de dez mil lugares por preencher nesse subsistema.

O Instituto Politécnico de Tomar é a instituição que tem a menor taxa de ocupação — apenas 20% dos lugares foram preenchidos, até ver. Segue-se o Instituto Politécnico de Bragança (23%). Nestes dois institutos sobraram, respectivamente, 412 e 1420 vagas. Entre os institutos politécnicos, o do Porto é o que está mais confortável, com 81% de taxa de ocupação.

Nas universidades, é também a do Porto (que era a que tinha mais oferta) aquela que viu a maior percentagem de vagas ocupadas (97%), seguida pelo ISCTE — Instituto Universitário de Lisboa e pela Nova de Lisboa (ambos com 92%). No extremo oposto está a Universidade do Algarve (com apenas 53% de ocupação).

Há 14 cursos onde o último colocado tinha apenas 9,5 valores, numa escala de zero a 20. O curso de Medicina da Universidade do Porto é o que regista a classificação do último colocado mais alta: 18,1.

Dos 66 cursos sem alunos, mais de 20 são em regime pós-laboral ou de ensino à distância.

Em Maio, o Ministério da Educação e Ciência propôs alterações legislativas que condicionam a abertura de cursos e o seu financiamento. De acordo com a Lusa, estas formações podem estar em risco.

Nesta 1.ª fase, 93% dos candidatos a uma vaga no ensino superior conseguiram colocação, com 37.415 a conseguir entrar numa universidade ou politécnico. É a percentagem de entradas à primeira mais elevada desde, pelo menos, 2003, último ano para o qual o Ministério da Educação forneceu estatísticas.

Segundo o Executivo, 60% dos alunos conseguiram entrar no curso que escolheram em 1.ª lugar (nos boletins de candidatura podem apontar seis hipóteses).

Entre 9 e 20 de Setembro decorrerá a apresentação da candidatura à 2.ª fase do concurso nacional de acesso e nessa altura estarão em jogo as vagas sobrantes da 1.ª fase (mais de 14 mil), mas não só. Também estarão em jogo outros lugares, nomeadamente os sobrantes dos concursos especiais e os que tendo sido ocupados na 1.ª fase do concurso acabem por não resultar em matrícula e inscrição.

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