Cantinas Sociais podem fomentar a desigualdade e a exclusão, diz estudo

Existem atualmente mais de 800 cantinas. Estudo será apresentado esta sexta-feira durante uma conferência sobre Estado Social no contexto de crise.

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A cantina social do Lar Sant'Ana de Matosinhos é uma das 800 em todo o país Paulo Pimenta

De responsabilidade de Vasco Almeida, do Instituto Superior Miguel Torga/Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, o estudo, através de uma "metodologia qualitativa" e baseada em entrevistas com funcionários das Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS), alerta para vários efeitos negativos que podem ter as cantinas. Existem atualmente mais de 800 cantinas. E estas entre Janeiro e Outubro do ano passado serviram mais de 14 milhões de refeições.

No entanto o investigador, como explicou à Lusa, olha com desconfiança para a iniciativa, desde logo porque se trata de "um acto isolado, que não vai resolver a pobreza nem contribui para a capacitação das pessoas". É "uma medida temporária, com um destino incerto" e todas as pessoas com quem falei me dizem que se está a ir para onde não se devia, que é "dar o peixe em vez de ensinar a pescar", disse.

Vasco Almeida vê méritos na medida e não se esquece que através dela se tira a fome a muitas pessoas, mas adianta que a mesma não é abrangente, porque existem listas de espera, e que é apenas uma refeição por dia e "nem sempre sete dias por semana".

Chegar a quem precisa

"Há zonas interiores onde não há qualquer IPSS, nem sempre as cantinas chegam a quem precisa, e quem recebe outro tipo de ajuda, como do Banco Alimentar, não tem acesso, sendo que são pontuais as ajudas do Banco", acrescentou o autor do estudo.

Vasco Almeida lembrou que o Governo paga a cada IPSS 2,5 euros por refeição para acrescentar que haverá instituições que não se norteiam por uma acção solidária mas que, ao contrário, poderão estar a ver nesta contribuição "uma forma de arranjar um suplemento financeiro". O investigador não desmerece o papel das IPSS mas salientou que o Estado deve de ser "um financiador e também um regulador". Mas diz peremptoriamente que as cantinas sociais "não resolvem os problemas e trazem dependência".

"As cantinas foram anunciadas como um modelo de inovação social. Mas se olharmos para o conceito mais comum pressupõe-se que na inovação social haja capacitação do indivíduo, o que não acontece", disse também. O estudo é apresentado hoje no decorrer de uma conferência sobre Estado Social no contexto de crise, que durante dois dias junta no Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG) dezenas de académicos de mais de uma dúzia de países.