Boas!
"Boas!" é uma interjeição. Pode dizer-se enquanto se vira as costas.
"Boas tardes" significa um conjunto de tardes boas. Se fosse essa a intenção até seria um cumprimento estimável: "que não só esta tarde seja boa como também, já agora, uma meia-dúzia doutras também".
Agora "boas" sem mais nada - sobretudo de manhã - quer dizer o quê? Boas entradas (no dia que aí vem)? Que boas coisas lhe aconteçam durante o dia? Que boas são estas horas enquanto ainda estamos vivos?
Lentamente estamos a afastar-nos das (igualmente cansativas mas destituídas de qualquer frisson de novidade) perguntas como "Tudo bem?" ou "Então?". É que essas perguntas tinham o defeito de patrocinar respostas, desde o "Vai-se andando...que remédio..." até longos relatos de desgraças do agregado familiar.
Hoje, perguntar "Como está?" e "passou bem?", que até há pouco tempo eram meras formalidades, isentas de curiosidade ou de empatia, é exprimir uma vontade sincera de ouvir tudo o que aconteceu ao nosso interlocutor desde a última vez que o vimos.
"Boas!" é uma interjeição. Pode dizer-se enquanto se vira as costas. É um resíduo de um cumprimento. É um vestígio de civilização. Ao menos isso. As coisas ainda podem piorar. Mas pouco.