Associações de doentes denunciam dificuldades de acesso a fármacos nos hospitais
Associações questionam utilidade da nova Comissão Nacional da Farmácia e dizem que os médicos não são livres de escolher.
Paulo Pereira, da Associação Todos com a Esclerose Múltipla, lamentou que os médicos não sejam “livres de escolher” a medicação que consideram mais indicada para o seu doente, tendo que se sujeitar aos que os hospitais disponibilizam, que resultam de negociação entre os conselhos de administração e os laboratórios, sublinhando que os médicos dão o “mal menor”.
A este propósito, Arsisete Saraiva, presidente da Associação Nacional de Doentes com Artrite Reumatóide (ANDAR), afirmou que “a relação médico-doente está a ser posta em causa pela incapacidade do clínico de tomar decisões terapêuticas face à contenção de custos por parte dos hospitais”.
A responsável mostrou-se ainda preocupada com as perspectivas futuras mais negativas em termos de cortes orçamentais na saúde.
“Dizem que o pior está para vir. Qual a dimensão deste pior?”, questionou, sugerindo que são esperados mais cortes na saúde e que “os medicamentos inovadores de uso hospitalar vão estar novamente na berlinda”.
Outra preocupação manifestada pela presidente da ANDAR diz respeito a um novo organismo, a Comissão Nacional de Farmácia e Terapêutica (ligada ao Infarmed), cuja utilidade foi questionada.
“A Direcção-Geral da Saúde já publica normas e directivas. Não sabemos bem para que serve esta comissão, estamos expectantes”, afirmou, acrescentando esperar que “tenha em conta o doente” e que “não seja mais um organismo a dar força aos hospitais do Norte” na contenção com medicamentos.
Ministro “mente”
Sobre a escassez de medicamentos, Paulo Pereira especificou que o Hospital de Braga, um “pioneiro do G14”, só dá toda a medicação para a esclerose múltipla a doentes anteriores a Agosto de 2011, sendo os doentes posteriores a essa data penalizados em termos de acesso à medicação.
Outro factor de discrepância criticado pelas associações de doentes diz respeito à zona do país onde vivem, uma vez que os critérios de distribuição de medicamentos não são iguais em todos os hospitais.
Emília Rodrigues, da SOS Hepatite, apontou também casos concretos de doentes sem acesso a medicamentos, afirmando que há doentes que “esperam mais de seis meses pela medicação”.
Como exemplo referiu “um doente que pediu o medicamento a 25 de Outubro e que hoje desistiu daquele hospital”, farto de esperar.
A responsável revelou ainda um outro caso passado no Curry Cabral, em Lisboa, com um doente transplantado (fígado) e que recebeu de uma caixa de 30 comprimidos [imunossupressores] apenas dez, sem bula e com a indicação de ir telefonando para o hospital durante a semana para saber quando poderia ir levantar os restantes.
Confrontadas pelos jornalistas com declarações públicas do ministro da Saúde, segundo as quais não tem conhecimento de doentes sem acesso a medicamentos, as associações acusaram o governante de estar a “mentir”.
Arsisete Saraiva afirmou ter entregado “em mãos” um envelope com dez casos, Paulo Pereira garantiu que desde 2011 que envia e-mails a denunciar essas situações e Emília Rodrigues disse que escreveu em Junho uma carta ao ministro.