O que o fez  embarcar nesta aventura? Os sucessivos cortes salariais e nas horas extraordinárias – “ fiquei a ganhar pouco mais de metade do que há dez anos” –, a “falta de perspectivas de evolução e a degradação profissional” em Portugal, além da possibilidade de ficar mais perto da filha, que encontrou um emprego nos Emirados Árabes Unidos.

A adaptação não foi fácil, devido “ao choque cultural”, admite. Com um contrato de dois anos, Rui, 55 anos, já pondera regressar. No hospital saudita trabalha seis dias por semana e ganha “bem”, até porque o salário é livre de impostos, mas este “não é propriamente o El Dorado”, avisa.

Os árabes estão à procura de médicos portugueses. O presidente executivo (CEO) de um grupo de hospitais da Arábia Saudita vem de propósito neste mês a Lisboa, nos próximos dias 24 e 25, para entrevistar e contratar pelo menos 30 especialistas nacionais. O anúncio de recrutamento é de fazer revirar os olhos: os salários oscilam entre “os oito mil e os 11 mil euros por mês livres de impostos”, acrescidos de direito a prémios, alojamento gratuito, “44 dias de férias” e viagens pagas.

Naquele país com 28 milhões de habitantes, e quase a mesma área geográfica da União Europeia, vivem oito milhões de “expatriados”, mas ainda se contam pelos dedos os médicos portugueses, lamenta André Leite, da FFFHealthCare, a empresa que está a intermediar o recrutamento e que colocou o apelativo anúncio no portal da Ordem dos Médicos (OM).

O grupo de Hospitais do Ministério da Saúde da Arábia Saudita e do Al–Mouwasat Medical Services Co, com unidades na Arábia Saudita, Kuwait, Jordânia e Emirados Árabes Unidos, procura profissionais com pelo menos três anos de experiência em 15 especialidades diferentes, desde cirurgia geral, oftalmologia, anestesiologia, neurocirurgia e cirurgia plástica. Os que forem seleccionados vão trabalhar para as unidades do grupo na capital, Riade, e em Damman, a maior cidade da província Leste, junto à fronteira com o Bahrein, Qatar e Emirados Árabes Unidos.

“A medicina portuguesa ainda tem pouca reputação no Médio Oriente”, reflecte André, que acredita que a situação possa mudar num futuro próximo. “É a primeira vez que um CEO [director executivo] e o director dos recursos humanos de um grupo com vários hospitais [desta região] vem a Portugal para contratar médicos”, enfatiza . Em 2013 já foi a sua empresa que levou Rui Mealha e outros nove médicos para o hospital privado situado numa cidade de província da Arábia Saudita. Nem tudo parecem ter sido rosas, porém. Dos dez profissionais, cinco já regressaram a Portugal. André, que tem intermediado a ida para a Arábia Saudita de outros profissionais de saúde, como enfermeiros, desdramatiza: “É uma nova experiência. A média de permanência é de um a três anos”.