Alimentação: o futuro do bacalhau joga-se na próxima quinta-feira

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A indústria portuguesa de transformação emprega mais de 1800 pessoas PÚBLICO/arquivo

O alerta partiu da Associação dos Industriais do Bacalhau (AIB), que está preocupada com as “consequências desastrosas” desta alteração legislativa proposta pela Noruega e pela Dinamarca, que visa permitir a utilização de polifosfatos em peixe de salga húmida.

O secretário-geral da associação, Paulo Mónica disse à agência Lusa que “a proposta vai contra a legislação comunitária”, sublinhando que o que está em causa é a possibilidade de “usar aditivos químicos num produto 100% natural”.

Paulo Mónica lembrou que o método de detecção destes aditivos “é complexo, demorado e não está totalmente validado”. Por isso, as empresas só vão saber se a matéria-prima que usam tem, ou não, estes químicos na altura da secagem. Além disso, se contiver polifosfatos a secagem do bacalhau será muito mais demorada. “Nalguns casos, será o dobro do tempo, o que terá custos acrescidos com a energia.”.

Por outro lado, os consumidores “não vão ter aquilo que procuram e a que estão habituados”. Os consumidores terão um produto com “sabor e uma textura irremediavelmente alterados” e com muito mais humidade. “Vão comprar água ao preço do bacalhau”, salientou o responsável da associação.

Segundo Paulo Mónica, a justificação apresentada pela Dinamarca e pela Noruega é a obtenção de “um produto mais branco” mas, acrescentou, “não existe qualquer referência científica ao uso destes aditivos como agentes branqueadores”. “Os polifosfatos são vulgarmente utilizados para retenção de água e nós estamos perante um produto que se baseia na desidratação do peixe”, acrescentou.

A AIB já fez chegar uma carta ao presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, apelando à retirada da proposta e espera que o bom senso prevaleça. “Acreditamos que prevalecerá o bom senso e que a proposta não passe ou seja retirada”, declarou Paulo Mónica.

Segundo a associação, “está em risco a própria indústria portuguesa de transformação”, que emprega mais de 1800 trabalhadores, tem uma facturação de 400 milhões de euros e exporta quase 10 mil toneladas de bacalhau seco.