Adolescentes responderam à escolha múltipla da prova e passaram

Um aluno de 15 anos só errou uma resposta. Uma estudante de mestrado da Escola Superior de Educação de Lisboa, de 21 anos, acertou tudo. O PÚBLICO pediu a jovens entre os 13 e os 26 anos para responderem ao modelo divulgado e na parte da escolha múltipla ninguém chumbava.

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PÚBLICO pediu a alunos do básico e secundário para responder à prova Tiago Machado

“Fogo! Demorei imenso tempo!”, diz no fim, mas visivelmente satisfeito por só ter errado uma questão. Fez a prova descontraidamente em cerca de 25 minutos, resmungando, por vezes entredentes, que uma outra questão era confusa. Este aluno do nono ano do ensino público, da Escola Secundária António Damásio, em Lisboa, não ficou em pânico em qualquer momento. Diz que não é um estudante brilhante e que sobretudo a Matemática tem alguma dificuldade. A questão que errou foi a oitava, relativa a conteúdos de Português – é pedido para identificar, em quatro hipóteses, a frase que não tem qualquer incorrecção.

O PÚBLICO passou a tarde de sexta-feira no ginásio de Matemática Mathnasium no Parque das Nações Sul, em Lisboa, e pediu a mais adolescentes para fazerem o teste. Inês Costa, aluna de 14 anos do colégio Pedro Arrupe, fez tudo num ápice, em cerca de 15 minutos: errou quatro e não fez uma. Joana Quaresma, aluna de 13 anos do Colégio de Santa Doroteia, demorou cerca de 25 minutos e errou três. Apesar das respostas erradas, na parte da escolha múltipla, nenhum adolescente reprovaria. Todos acertaram mais de metade ou, pelo menos, metade das questões.

Por terem sido apanhados de surpresa e por falta de tempo, nenhum dos entrevistados respondeu à segunda parte da prova, que diz respeito à “resposta extensa” e na qual é pedido que se escreva um texto entre 250 e 350 palavras. Para os professores, a prova vai ter a duração de duas horas e tem 32 items de escolha múltipla e um de resposta extensa.

Inês Costa ficou muito calada e concentrada quando se viu com o enunciado à frente. Tímida, a aluna do 10.º ano reconhece que a Matemática lhe dá dores de cabeça e algumas negativas. Prefere Biologia. Uma das questões que errou foi a décima. No enunciado, é mostrada uma sequência de palavras: “AABACCDCEE”. Depois, é pedido que se escolha a opção que permite continuá-la: “FEGG”; “FEHH”; “FFGF”; ou “FFGH”. Inês hesitou: primeiro, escreveu a resposta certa - a primeira -; depois riscou e optou pela segunda. “Lembro-me de ter dado isto na escola”, diz, arrependida por ter voltado atrás na escolha.

Licenciados também passavam
Joana Quaresma, 13 anos, aluna do 8.º ano, acertou sete em dez questões. Uma das que errou foi também a décima, a das sequências. A quarta questão, em que se pede para se ler um excerto de um texto, e escolher depois a afirmação que corresponde à interpretação correcta, foi outra das que falhou.Bastou-lhe, porém, o momento da correcção e voltar a ler o texto com mais atenção para perceber a “diferença”. “Uma pessoa mais concentrada do que eu fazia tudo certo. Eu não sou muito concentrada…”, diz bem-disposta a adolescente, aluna de dezoitos a Inglês e História, mas com mais dificuldades a Físico-Química e Matemática.

Quando ligámos a Pedro Diogo, de 26 anos, a pedir que fizesse a prova, o aluno de mestrado da Escola Superior de Educação (ESE) de Lisboa hesitou – temia não ter tempo para o fazer entre a hora de almoço e o início das aulas. Quando, depois, recebeu o enunciado por email, respondeu-nos passado pouco tempo. Fez a escolha múltipla em 15 minutos, contra o relógio e sem revisões: errou duas.

Pedro Diogo, que quer ser educador de infância, tem uma licenciatura de três anos em Educação Básica e frequenta um mestrado em Ensino Pré-Escolar. Diz que, ao longo do percurso académico, já fez exames muito mais difíceis, “sem dúvida”.

Considera que a existência de uma prova “não faz sentido” e que este modelo, em concreto, é “demasiado fácil”: “É uma prova que avalia de uma maneira muito global a compreensão do enunciado e não nenhuma matéria a fundo”, afirma. Uma das questões que Pedro Diogo errou foi a quarta – em que é pedido para ler um texto, e escolher depois a afirmação que corresponde à interpretação correcta.

Mafalda Rios, 24 anos - que tem a mesma licenciatura e também está a frequentar o mestrado – diz que talvez seja a quarta questão, aquela que poderá ser “um pouco mais escorregadia”. Esta estudante também a errou – em seis entrevistados, apenas dois acertaram nesta pergunta. Mafalda Rios também não respondeu à nona pergunta, em que é preciso fazer contas, por falta de tempo.

“Ridículo”
A estudante – que tal como os outros alunos da ESE respondeu às questões não presencialmente, mas por email – também não acredita que uma prova como a que foi divulgada “consiga avaliar as competências de um docente”: “Não diz se é apto ou não para dar aulas”, defende.

Apesar de ter acertado tudo, também Mariana Lopes, 21 anos, considera que o tipo de exame que fez não só não avaliará a parte pedagógica dos docentes, como não adiantará grandes conclusões sobre a competência dos mesmos: “Não são estes items que dizem se é um bom ou mau professor. Sendo tão acessível, parece-me até um bocado ridículo avaliar as capacidades de um docente. É desvalorizado o conhecimento que os docentes têm”, defende.

Diz que respondeu à escolha múltipla em 20 minutos e acertou tudo. “Em termos de perguntas é bastante acessível”, justifica. A estudante – que também fez a licenciatura em Educação Básica na ESE e está igualmente a frequentar o mestrado em Educação Pré-Escolar – ressalva, porém, que ainda tem a matéria fresca e que, por exemplo, a leitura de diagramas, presente numa das questões, é muito trabalhada durante o curso.

Para Mariana Lopes, uma das questões que poderá levantar mais dúvidas é a oitava, relativa a conteúdos de Português – é pedido para, em quatro hipóteses, identificar a frase que não tem qualquer incorrecção. “Li e fui excluindo. Fiquei indecisa entre duas. Por sorte ou sabedoria, acertei. Mas pode levantar dúvidas”, defende.

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