Uma história interminável

Conheciam-se bem. “Estivemos juntos 15 anos.” Nunca pensou que pudessem relacionar-se como agora. “O divórcio foi muito violento”, diz Alexandra. “Ele não queria.” Ela forçou-o. Sentia-se traída. Houve divórcio sem consentimento no Tribunal de Família e Menores da Comarca de Lisboa Noroeste.

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“O divórcio foi muito violento”, diz Alexandra Paulo Ricca

Fazia horas extraordinárias para conseguir pagar as contas. O ex-marido não pagava os 100 euros de pensão de alimentos, nem com ela partilhava despesas de saúde e educação. Dizia-se desempregado. Mês após mês, Alexandra mandava um e-mail para o tribunal a informar que o ex-marido estava em falta.

O tribunal deu-lhe razão. Ordenou ao ex-marido que pagasse os meses em atraso. Só em Janeiro deste ano, porém, Alexandra começou a receber. Não por vontade dele, por execução judicial: na hora de lhe pagar o salário, o empregador subtrai o valor estipulado e remete para a conta dela.  

Está cansada. Já tantas vezes teve de ir ao tribunal e à comissão de protecção de crianças e jovens. Já pediu à psicóloga do centro de saúde para ajudar as meninas, que no início de tudo tinham 9 e 11 anos e agora têm 11 e 13. Era final de 2014 e o ex-marido voltou a levá-la ao tribunal.

“Fui notificada pela polícia e tudo”, diz ela. “Vinha o Natal e dizia que eu não lhe ia dar autorização para estar com elas. Ele queria passar o Natal e a passagem de ano com elas. A mais velha disse que jantava com ele no dia 24 de Dezembro e almoçava com ele no dia 1 de Janeiro. Ele não as levou.”

O conflito reflecte-se na relação com as filhas. A 29 de Outubro, por exemplo, Alexandra recebeu uma mensagem do ex-marido a dizer-lhe que queria levar as filhas a jantar e a ver um filme. A mais velha estava atolada de afazeres escolares. “Não te preocupes mamã, eu explico ao papá que hoje não posso”, ter-lhe-á dito. Pouco depois, estava num pranto. “O papá disse-me que eu não gosto dele, que não lhe ligo nenhuma, que estou a tramar-lhe a vida. Não quero mais falar com ele.”

Em Março de 2015, quando as meninas foram chamadas pelo tribunal, a juíza ainda não tinha os relatórios técnicos que pedira. Falou com elas uns “dez minutos”. Propôs mediação familiar, mas Alexandra não aceitou. “Não quero mais conversa com ele. Não quero diálogo. Não quero entendimento.”

Não vislumbra um fim. Tudo isto lhe parece “cansativo, esgotante”. Três meses depois daquela sessão, ele intentou novo processo, agora por suposto comportamento inadequado. A filha mais velha continua a não querer passar fins-de-semana com o pai. “Está magoada, revoltada.” E a mais nova segue o exemplo. “Já lhe pediu várias vezes para estar com ele. Não quer dormir em casa dele, quer passar o dia com ele, mas ele diz que não, que se for é de sexta a domingo. Por que não tenta ele fazer as coisas de outra maneira, por que não tenta ele cativá-las? Ele diz que a culpa é minha.”

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