Uma história que acabou mal
Não acabou bem, certamente, para os milhares de desempregados que viram os seus postos de trabalho destruídos. Ora, grande parte do desemprego que hoje temos foi o resultado da recessão económica provocada por medidas desproporcionadas, tomadas pelo Governo em nome do programa ideológico resumido na retórica da “austeridade expansionista”.
Não acabou bem para os milhares de avós, de reformados, que são hoje o suporte de filhos e netos em muitas famílias, e que vivem sob a ameaça de mais cortes nas suas reformas. Ora, no programa de austeridade não estava previsto qualquer corte drástico de pensões. O Governo, porque foi incapaz de controlar o défice público de forma programada, cortou de forma cega e muito para além do que seria necessário, nas principais rúbricas da despesa pública, isto é, nas pensões e salários dos funcionários.
Não acabou bem, seguramente, para as 65.000 crianças do 1.º ciclo que deixaram de ter a possibilidade de aprender Inglês. Como não acabou bem para os milhares de pais das crianças do ensino básico que ficam sem aulas durante os exames do 4.º e 6.º anos, devido ao modo como estes são realizados, imposto às escolas pelo Ministério da Educação. Quando 100.000 alunos fazem exame, muitos dos restantes 800.000 ficam por isso sem aulas.
Não acabou bem para os muitos jovens que viram reduzidas as suas oportunidades de formação avançada, em doutoramentos e pós-doutoramentos, e que assistem à destruição das oportunidades de emprego científico. Ou para os investigadores que assistiram à destruição de um sistema de avaliação credível, substituído por processos e regras pouco transparentes e arbitrários, e que hoje temem o desmantelamento do sistema científico construído nas últimas décadas.
Não acabou bem para os milhares de adultos que deixaram de ter oportunidades de formação certificada, nas escolas e nos centros de formação. Como não acabou bem para os muitos jovens que descobrem que, ao completar 20 anos, deixam de poder frequentar a escola secundária para terminar os seus cursos.
A política vale a pena para construir, não para destruir; vale a pena para proporcionar às pessoas melhores condições de vida, não para as fazer empobrecer. Porém, nestes últimos anos o que tivemos foi a destruição de instituições e empobrecimento generalizado. Bem nos podem dizer agora que tal era necessário para sairmos da bancarrota e que a culpa de todo o mal é da troika. Basta ler o Memorando de Entendimento assinado em 2011 para comprovar que muito do que foi feito não estava lá previsto.
Termino repetindo a pergunta: acabou bem para quem?