Um triste dia no Parlamento português

Há oito meses, a co-adopção passou. O PSD estava distraído. Pena que agora não estivesse

Deste infeliz clube dos europeus que permitem a co-adopção por casais heterossexuais mas não por casais gay fazem parte, além de nós, a Rússia, a Ucrânia e a Roménia. Não seria necessário dizer mais nada para demonstrar a incredulidade face à votação do Parlamento português. A co-adopção por casais gay não é um conceito estranho que uma deputada socialista inventou para chatear o governo.

O mundo mudou e metade dos deputados portugueses ainda não se aperceberam disso. Na Alemanha já não há apenas dois sexos possíveis à nascença. Há três hipóteses. A terceira é para quando não há certeza sobre a fisiologia do bebé. A Áustria foi condenada pelo Tribunal Europeu dos Direitos do Homem por impedir a co-adopção por casais do mesmo sexo. Em África, de facto, há cada vez mais países que criminalizam a homossexualidade.

A co-adopção é outra coisa, claro. É mais simples. É apenas garantir que uma criança criada por um casal gay não fica órfã, não é forçada a ir viver com os avós ou não é entregue por um tribunal a um lar caso o pai ou a mãe biológicos morram. É apenas isso. É garantir que o cônjuge sobrevivente continua a cuidar da criança a quem chama filho.

Mas não vale a pena esconder que por detrás do chumbo de ontem está uma incapacidade de aceitar a homossexualidade como uma coisa natural da vida. O PS, que promoveu a iniciativa, e todos os que a defenderam, não quiseram incendiar as emoções. Trataram o tema, e bem, como uma questão jurídica e de direitos básicos. Mas agora que está chumbada, essa vergonha não fica escondida.

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