Textos assinados por Luís Filipe Menezes copiados de sites da Internet

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Luís Filipe Menezes é candidato à presidência do PSD e é presidente da Câmara de Gaia Fernando Veludo/PÚBLICO (arquivo)

A 7 de Agosto, por exemplo, Luís Filipe Menezes quis assinalar os 62 anos da tragédia de Hiroxima e socorreu-se da maior enciclopédia online. "No 33.º dia após o aniversário dos Estados Unidos e às 8h35, do dia 6 de Agosto, o Enola Gay lançou a primeira bomba", começa o texto "Hiroshima, meu amor", sublinhando mais à frente que o material "radioativo [brasileirismo não corrigido da Wikipédia]" se espalhou numa "espessa nuvem".

Neste caso, apenas houve o cuidado de actualizar o acontecimento, relativamente à versão da Internet. "Foi há 62 anos", lê-se na frase que encerra o artigo.

Os obituários de dois dos mais consagrados realizadores do cinema de autor europeu do século XX também não escaparam à cópia. Um dia após a morte de Michelangelo Antonioni, a 31 de Julho, dois dias após a morte de Ingmar Bergman, um post, outra vez assinado por Luís Filipe Menezes, assinala a ocasião fúnebre: "Antonioni e Bergman: desapareceram dois monstros sagrados da Sétima Arte".

No caso de Michelangelo Antonioni trata-se da versão da Wikipédia que existia a 31 de Julho (desde então houve várias alterações). O PÚBLICO notou apenas a alteração de uma ou outra palavra, como "formou-se em economia" em vez de "graduou-se em economia".

Com Ingmar Berman aconteceu algo semelhante. Cortou-se apenas parte de uma frase onde se referia a localidade onde nasceu, logo no início, e depois fez-se corta-e-cola praticamente até ao fim. Das últimas duas linha da entrada na Wikipédia retirou-se a palavra "roteirista", bem como a frase "de forma tranquila, segundo sua filha, Eva Bergman — e, curiosamente, no mesmo dia em que faleceu Michelangelo Antonioni".

Na entrada mais recente do blogue, por sua vez, datada de 16 de Agosto, aquilo que parece uma homenagem ao escritor transmontano Miguel Torga não é mais do que uma cópia exacta de partes do Dicionário dos Mais Ilustres Transmontanos e Alto-Durienses, de João Barroso da Fonte, que estão disponíveis no site BragancaNet, um portal sobre o Nordeste Transmontano.

O autor do livro disse ao PÚBLICO que não lhe foi solicitada qualquer autorização de transcrição, e não foi feita qualquer referência a esta obra no texto do autarca de Gaia.

O artigo sobre Torga, que é seguido do registo "Autor: Luís Filipe Menezes", intitula-se "O Centenário de Torga", tem 22 linhas e 1300 caracteres. Sendo essencialmente um registo biográfico do autor de "Os Bichos", o artigo inclui também valorações sobre o escritor.

Regista-se, em particular, o retrato feito por David-Mourão Ferreira, que a BragancaNet cita e de que o blogue luisfilipemenezes.blogspot.com se apropria, sem indicar a origem.
"Órfão rebelde, Torga é, no dizer de David Mourão-Ferreira, a ‘reencarnação de um poeta mítico por excelência — daquele que vive na intimidade das forças elementares (a terra, o sol, o vento, a água), para celebrá-las com o seu canto — e alto exemplo de constante rebeldia, numa atmosfera que pretende asfixiá-lo", lê-se no texto que o autarca de Gaia assina.

Questionado sobre a origem dos textos, José Aguiar, um assessor de Luís Filipe Menezes, respondeu através de uma mensagem de SMS: "Eventuais incorrecções na identificação da autoria serão corrigidas e devem ser, naturalmente, tidas como lapso".

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