Soares teme grave crise mundial se não se salvar o Euro

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Soares defende que a Europa tem que pôr ordem nos mercados e nas agências Miguel Manso (arquivo)

No livro, apresentado esta segunda-feira em Lisboa, Soares responde às perguntas de Teresa de Sousa, feitas em Abril deste ano, e completadas em Junho, já depois da vitória do PSD nas eleições legislativas. Os autores partem do conturbado clima económico, social e político que o país vive para uma reflexão sobre o futuro e os caminhos possíveis para Portugal.

Mas a visão de Soares, como se percebe pelo título da obra, é optimista, o euro não morrerá e “a saída mais natural de Portugal é a saída europeia” da crise. “Confio mais nas pessoas que nos números”, afirmou durante a apresentação que decorreu no El Corte Inglés, em Lisboa.

Os apelos dos Estados Unidos e da China para que a crise do euro seja resolvida, são um sinal de que ela vai ser resolvida, mas Soares acrescenta que a Europa tem de mudar de paradigma e salienta que se a UE “não põe ordem nos mercados e nas agências” podemos entrar numa crise mundial”. “Temos de salvar o Euro, se não vamos todos ao fundo.”

Soares, muito crítico em relação aos actuais líderes europeus, lembrou as divergências que teve no passado com Teresa de Sousa em relação ao antigo primeiro-ministro inglês Tony Blair, elogiado pela jornalista e por si criticado, afirmando: “Sempre achei Tony Blair um vigarista que só queria ganhar dinheiro.”

Teresa de Sousa, que elogiou o político “que normalmente tem razão antes das outras pessoas”, explicou como escolheu o título da obra. Contou que recentemente passou duas horas a ouvir o que as pessoas diziam a Soares durante uma sessão de autógrafos e os muitos elogios que lhe faziam e explicou: "Se ele [Soares] diz que o país tem saída as pessoas acreditam."

O livro foi apresentado por Vasco Vieira de Almeida, amigo de Soares, mas que discorda do optimismo do fundador do PS em relação à Europa. Concorda, porém, com as críticas ao actual Presidente da República. “Neste livro, Mário Soares critica Cavaco Silva por não ter actuado para evitar a crise política e o PSD por não ter viabilizado o PEC IV. Neste último ponto, não estou de acordo”, afirmou, salientando que intervenção externa em Portugal era inevitável.

Na apresentação estiveram várias dezenas de pessoas que encherem por completo a sala do El Corte Inglés, mas onde foi notória a ausência dos actuais dirigentes socialistas e dos candidatos à liderança do partido Francisco de Assis e António José Seguro.

Murro na mesa

Na obra, Soares afirma que Portugal, a Irlanda e a Grécia deveriam ter tido a coragem para darem “um murro na mesa” em Bruxelas na altura oportuna da crise económica de forma a conseguirem maior poder negocial e a solidariedade europeia.

E em relação a Bruxelas, Soares não se fica pelo “murro na mesa”. Portugal, Irlanda e Grécia, “os países vítimas”, deveriam ter tido também “a coragem de dizerem alto e bom som aos seus parceiros europeus: assim não”.“Deveriam ter dito: austeridade, sim, mas evitando a recessão e garantindo o crescimento. Deveriam ter dito: ajudem-nos, como é próprio da solidariedade que deve existir entre os Estados-membros da União Europeia. Caso contrário, podemos não pagar esse juro abusivo, porque não aceitamos estar de joelhos perante os mercados especulativos”, defende.

Se tivesse havido essa atitude, "seguramente que tudo teria sido diferente". "Quem ajudou a Alemanha quando foi preciso fazer a unificação alemã? Foram os países europeus, entre os quais o nosso..." E tudo isto não aconteceu, “porque não houve coragem política por parte dos países vítima” e “todos se ajoelharam perante a Alemanha”, cujo Governo “ainda não compreendeu que o neoliberalismo está esgotado, entrou em colapso, tal como há vinte anos o comunismo”. “Agora, é preciso mudar de paradigma, como disse Obama”, acrescenta Soares.

Críticas a Cavaco

Soares é também crítico em relação a Cavaco Silva, considerando que o actual Chefe de Estado poderia ter evitado a crise no país. "O Presidente da República ficou estranhamente silencioso. Fiz-lhe um apelo público 'angustiado' para que evitasse a crise. Quanto a mim, podia tê-lo feito", escreve no livro.

O antigo Presidente da República lembra ainda que Cavaco Silva "alegou o facto de as coisas 'terem sucedido com muita rapidez' o que lhe retirou 'margem de manobra'" e acrescenta: "É uma explicação seguramente verdadeira, mas faz-nos reflectir."

Sobre José Sócrates, o antigo presidente da República salienta algumas das suas qualidades, considerando que o ainda secretário-geral socialista foi “um líder forte”, com “grandes virtudes”, lembrando mesmo que “foi talvez o mais atacado e injuriado dos políticos portugueses desde sempre”. “Resistiu a tudo. E saiu com honra e grande dignidade", salienta.

Mas aponta também “alguns defeitos”: “Uma certa arrogância, a dificuldade em fazer compromissos, a teimosia. Estes últimos contribuíram muito para lhe criar muitas antipatias.”

Notícia actualizada às 21h30
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