Sampaio da Nóvoa foi à Marinha Pequena

Houve “rumores” e chuva. A campanha animou-se um pouco, com críticas de Jorge Lacão a Marcelo Rebelo de Sousa.

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Nuno Ferreira Santos
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O apelido é Neto, e estamos na Marinha Grande – ou quase, porque o lugar chama-se Marinha Pequena, mas o concelho é esse – numa fábrica de moldes. Gonçalo é um jovem quadro da fábrica da família, a TJ Moldes, e partilha um apelido comum aos empresários desta zona e ramo de actividade. Ninguém falou em Henrique Neto, mas a candidatura de Sampaio da Nóvoa foi a jogo no terreno do adversário.

A Marinha Grande é uma terra mítica, na história das primeiras voltas das presidenciais portuguesas. Foi o momento de viragem, há 30 anos, com a agressão a Mário Soares. Sampaio da Nóvoa não esteve perto de nenhuma estalada, mas outro candidato leiriense dar-lhe-ia razões para franzir o sobrolho. Cândido Ferreira escreveu uma “carta aberta a Sampaio da Nóvoa” onde alega que o curso “Formação de Professores de Educação pela Arte”, que Nóvoa frequentou na Escola Superior de Teatro e Cinema, “não confere licenciatura” e que o certificado obtido “apenas o credenciou enquanto professor primário”.

“Faço perguntas, baseado em rumores “, assumiu Cândido Ferreira, pedindo ao ex-reitor que afaste “qualquer mácula” do seu percurso académico. Nóvoa evitou responder, durante algumas horas, mas à saída da TJ Moldes falou sobre o assunto: “Já me disseram que todos os dias tem havido uma acusação diferente, dia após dia tem havido uma acusação diferente. Não vou responder a nenhuma dessas acusações. São acusações tão absurdas que não faz nenhum sentido.” Segundo a sua biografia oficial, Nóvoa diplomou-se em Ciências da Educação pela Universidade de Genebra, onde prosseguiu depois os estudos de doutoramento. “Em 2006, completa um segundo doutoramento, na Universidade de Paris IV- Sorbonne, em História Moderna e Contemporânea.” Foi eleito reitor da Universidade de Lisboa em 2006, depois de prestar várias provas públicas na sua carreira de docente. Nóvoa terminou o dia de campanha como convidado para uma palestra no Instituto Superior D. Dinis, na qualidade não de candidato, mas de 'professor catedrático'.

O episódio do curso teve, contudo, o efeito colateral de lembrar a muitos portugueses que este foi o quinto dia uma campanha eleitoral para a Presidência da República. Porventura a mais subtil de todas.

Por momentos, antes deste “episódio Marinha Grande”, a campanha de Nóvoa mostrou alguma acutilância política. Falando num almoço com cerca de 200 apoiantes, em Abrantes, o dirigente socialista e vice-presidente da Assembleia da República, Jorge Lacão, criticou duramente Marcelo Rebelo de Sousa. Lembrando a época em que Marcelo liderava o PSD e se propunha “fazer a revisão constitucional em 15 dias”, como “moeda de troca para a viabilização dos orçamentos”, Lacão acusou o candidato adversário de usar “a constituição do país como moeda de troca para as suas ambições partidárias”.

“Qual foi a herança política de Marcelo? Um combate sem tréguas à regionalização”, continuou Lacão. “Quem foi que no exercício de uma função política atrasou por uma década a reposição da dignidade das mulheres? Marcelo Rebelo de Sousa”, acusou o deputado, lembrando outro referendo que Marcelo negociou com Guterres, o da despenalização da interrupção voluntária da gravidez.

Nóvoa, que falou depois de Lacão, lembrando a sua visita a vários "bons exemplos", como o desta manhã em Coruche, sobre a utilização da cortiça, disse que é preciso "trazer estes bons exemplos para a regra do país". "É esse país que é capaz" que Nóvoa quer promover, a partir de Belém. "Não me ouvirão a acrescentar mais desânimo a tanto desânimo que temos por aí."

"Sou um candidato cidadão. Avancei quando a minha consciência o ditou e sou apenas dependente das minhas convicções, causas e princípios." Mas Nóvoa quis salientar uma "originalidade": a atitude de Marcelo que pede "às pessoas do partido de que foi presidente" para não fazerem campanha consigo. É "tacticismo" e "ingratidão", critica Nóvoa, tudo para que não se estrague "o show de uma campanha vazia". "Nós trazemos o civismo contra o cinismo. Estamos a fazer a demonstração de que a democracia pode vencer o desânimo. Não deixem ganhar a ideia de que o país é sempre dos mesmos."

De manhã, em Coruche, distrito de Santarém, sempre acompanhado pelos dirigentes locais do PS, o presidente da câmara Francisco Oliveira e o seu antecessor Dionísio Mendes, e pela deputada e dirigente da federação de Santarém Idália Serrão, o candidato começou o dia no Observatório do Sobreiro e da Cortiça, onde recebeu uma bola de futebol feita daquele material que a região de Coruche produz em abundância. Nóvoa foi recebido com simpatia. Pediram-lhe um autógrafo numa bandeira nacional. E foi sobre soberania a promessa do dia: “Não aceitarei diminuições significativas da soberania nacional sem que isso seja submetido a referendo.”

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