Rui Moreira contra concentração de recursos "numa cidade-Estado"

Autarca independente do Porto avisa que não se vai calar e diz que o novo quadro comunitário “corresponde a uma forma absolutamente desavergonhada de concentrar recursos” em Lisboa.

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Nélson Garrido

“Este quadro comunitário, mais uma vez, é desenhado exactamente da mesma forma. Dizem que não há spill-over [efeito difusor admitido como argumento para afectação de verbas destinadas às regiões de convergência em projectos da Região de Lisboa e Vale do Tejo]? A palavra deixou de fazer sentido. [O efeito] spill-over funcionou durante algum tempo enquanto havia vergonha, mas agora já não há vergonha e a forma como está estruturado o programa é absolutamente desavergonhada”, porque “concentra recursos numa cidade-Estado”, referindo-se a Lisboa, disse o autarca independente.

O debate sobre o Programa Portugal 2020 surgiu entre o presidente da Câmara do Porto e o social-democrata, Luís Artur, na reunião da última assembleia municipal deste ano, quando se discutia a questão da Associação de Municípios da Frente Atlântica, que reúne os municípios do Porto, Matosinhos e Vila Nova de Gaia, cujos estatutos foram aprovados com os votos contra do PSD e da CDU. No frente-a-frente, Rui Moreira declarou que o que está a “acontecer neste momento com os fundos comunitários é um rapto das verbas que deveriam ser distribuídas às regiões de coesão”.

Avisando que não se vai calar, o presidente da Câmara do Porto lembrou que, há um ano, quando chamou a atenção para o que estava a acontecer relativamente aos fundos comunitários, foi acusado de estar a “lançar uma cortina de fumo, de poeira” sobre o tema. Um ano depois, o autarca reincide nas críticas.”

A nossa convicção é que há áreas no programa que vai ser possível fazer algumas coisas, mas não tanto como gostaríamos”, revela, acrescentando: “O meu prenúncio é que nós vamos conseguir ir buscar alguns fundos com Matosinhos e Vila Nova de Gaia, mas quando chegarmos a 2020 vamos estar a dizer a mesma coisa e sabe o que é? É que a política de coesão em Portugal é feita ao contrário. Tudo o que nós recebemos em Portugal é roubado, através de uma política de descoesão”, disse.

Rui Moreira atirou depois com o exemplo do que está a acontecer neste momento com o COMPETE [Programa Operacional Factores de Competitividade] para dizer que se trata de “uma vergonha”. “O que está a acontecer desta vez é um rapto dos fundos que deviam ser destinados às regiões de coesão”, disse.

O autarca aproveitou para criticar o silêncio dos partidos políticos, em particular o PSD por não falarem do tema e de terem uma posição quando estão na oposição e outra quando estão no poder. 

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