PS reclama "vitória histórica", maioria lembra que socialistas tiveram menos votos
Quase todas as bancadas escolheram os resultados autárquicas como tema de debate na primeira sessão plenária. Só o BE optou por falar sobre o caso Rui Machete.
No período de declarações políticas, esta quarta-feira, Carlos Zorrinho, líder da bancada socialista, começou por explicar a extensão da vitória eleitoral de domingo em que conquistou 150 presidências de câmara. “Nunca antes, na história da democracia um só partido ou uma coligação tinha conseguido um resultado assim. Nem a AD de Sá Carneiro, que foi quem mais se aproximou”, disse, associando esta opção dos eleitores às propostas do PS para o crescimento e emprego.
Na resposta, o líder da bancada social-democrata, Luís Montenegro, reconheceu que “objectivamente o PS ganhou as eleições” e o “PSD não cumpriu os objectivos”.
Na leitura dos restantes partidos, o PS teve uma vitória eleitoral mas não assim tão estrondosa. “Em número de votos já estiveram melhor. Em número de câmaras reconheço vitória mas recomendo pouca euforia”, apontou Hélder Amaral do CDS-PP.
Momentos antes, António Braga, do PS, acusou o CDS de se esconder da derrota em coligação com o PSD. “O CDS divorcia-se do PSD e deixa o PSD sozinho nesta derrota que é estrondosa”, afirmou. António Filipe, do PCP, juntou-se a esta crítica.
"Não é o facto de o CDS agitar triunfalmente um ‘penta’, conseguido à custa de derrotas do PSD, de fingir que nem sequer conhece os seus parceiros de coligação em Sintra ou em Lisboa, ou de se enfeitar com a vitória de Rui Moreira no Porto que permite disfarçar que os parceiros de coligação se afundaram no mesmo barco”, acusou.
O deputado comunista salientou que a CDU obteve uma vitória eleitoral expressa “em mais votos, mais maiorias e mais mandatos”. Uma leitura partilhada por deputados da maioria.
A bancada do PSD deu voz a um deputado que foi eleito para a presidência da Câmara Municipal da Trofa. Sérgio Humberto considerou que “tirar ilações de eleições nacionais de eleições locais é abusivo”, argumentando que “é tirar o mérito aos diferentes candidatos do PS e do PCP que venceram as respectivas eleições, certamente pela validade das suas candidaturas e pelo valor dos seus programas”. João Oliveira, do PCP, contrariou esta interpretação: “Estas eleições foram a derrota dos partidos do Governo”.
Pedro Filipe Soares (BE), em reposta a Sérgio Humberto, referiu-se às eleições sobretudo para pedir uma reflexão sobre a abstenção, os votos nulos e em branco. “Se há uma lição a tirar é que austeridade mina a vida das pessoas, mina a relação dos cidadãos com as eleições e a qualidade da nossa democracia”, afirmou.
Heloísa Apolónia, de Os Verdes, apontou baterias ao primeiro-ministro. Passos Coelho fez uma interpretação “vingativa e furiosa” dos resultados eleitorais, ao reconhecer a derrota mas recusando mudar de direcção política no Governo do país. “Vai procurar aplicar mais rapidamente possível a sua fúria neoliberal”, afirmou, defendendo que está perante “um Governo completamente perigoso. ”