PS invade a ruas do Norte para impedir o “Vietname” eleitoral

Socialistas juntaram quatro acções de rua num só dia à volta do Porto. Costa teve direito a dar de frente com um pouco de tudo: apoio incondicional, desconfiança e até oposição declarada.

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Paulo Pimenta
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O PS arrancou para a última semana de campanha atirando-se à rua num ataque frontal. Sem medos, foram a uma feira na Trofa, atravessaram uma rua em Caxinas, deram uns passos por Ermesinde e atravessaram uma praça em Gondomar. Em qualquer uma dessas iniciativas, o secretário-geral socialista tentava chamar a atenção de quem por lá passava e arrancar promessas de voto e apoio.

Na Trofa, enquanto se desviava de pijamas polares, batas domésticas, clementinas e utensílios de cozinha, parava para receber abraços e assinar autógrafos. Em  Caxinas, viu-se levantado em ombros, sem que tivesse oportunidade sequer de dizer se o queria. “Olha o Costa!” gritavam alguns antes de se pendurarem no candidato.

O rebuliço era tal que se viam candidatos habituados aos corredores do poder, como o ex-ministro da Justiça Alberto Martins,  a serem impiedosamente empurrados para o lado por populares que tentavam chegar a Costa. Um mais avisado Manuel Pizarro, do secretariado de Costa, refugiava-se nas margens da comitiva, em Caxinas, tirando as medidas ao apoio. O seu maior empenho estava reservado para outros locais “No Porto é que é comigo”, dizia com um sorriso.

No meio da confusão, o socialista tentava fazer passar a mensagem. Um eleitor disse-lhe que há 4 anos tinha votado enganado no PSD. “À primeira, qualquer um cai, à segunda só cai quem quer”, respondeu Costa com um sorriso.

Mais à frente, teve de tornear a desconfiança. Depois de dizer que achava os políticos “todos iguais”, uma transeunte lá lhe largou um “Eu dou-llhe a minha dúvida”, mas com o dedo em riste em jeito de aviso. “Daqui a 4 anos eu venho e se eu não tiver feito nada, a senhora ralha-me”, retorquiu Costa. Em Ermesinde recebeu até uma regueifa de tamanho descomunal, onde se podia ler “Costa, primeiro-ministro de Portugal”.

O cientista Alexandre Quintanilha, cabeça de lista pelo distrito, testemunhava os recontros com um sorriso rasgado no rosto. Nos últimos tempos já tinha “quatro ou cinco” destas saídas no currículo, feitas desde o início da campanha. O atropelo e agitação deixavam-no feliz: “Acho isto uma maravilha, lembra-me quando eu estava na África do Sul a lutar contra o apartheid ou nos Estados Unidos contra o Vietname”, confidenciava ao PÚBLICO no fim da passagem por Trofa.

Costa pede maioria absoluta...
Tanto em Caxinas como em Ermesinde foram montados palcos onde Costa pôde fazer guerra ao Governo e puxar pelo inchar da mobilização. “Como dizíamos em 75, se isto não é o povo onde é que está o povo?”, gritou o líder do PS em Gondomar. Aproveitando o pano de fundo de bandeiras, charangas e apoiantes, Costa manifestava a sua confiança em resposta às perguntas dos jornalistas. "Para não haver variantes para qualquer adjetivo, o PS quer uma vitória clara, inequívoca e maioritária, uma maioria absoluta. É disso que o país precisa para ter estabilidade, paz e um novo rumo na governação."

Em Ermesinde, depois de agradecer a “bela regueifa”, recordou a polémica tirada de Passos sobre portugueses “piegas” para espetar uma farpa no primeiro-ministro. “Ele que não venha com pieguices porque já ninguém o aguenta mais.”

Mas as saídas deste sábado não juntaram todos os ingredientes para ajudar o PS a marcar uma posição de força. A adesão não foi tão marcada como noutras ocasiões. A massa de apoiantes não chegou aos ajuntamentos registados em 2011, por exemplo, em Caxinas, quando o aparelho juntou o futebolista Fábio Coentrão a José Sócrates. Em Ermesinde, os dois cabeçudos não foram suficientes para disfarçar a fraca comparência.

E António Costa não recebeu apenas apoio por onde passou. O candidato também levou para casa alguma da desconfiança em relação ao PS. Em Trofa, uma eleitora atirou à cara de Costa o nome do seu antecessor, para dizer que ele estava a perder a “maioria” que Seguro tinha certa. “Deixasse-o lá estar, que fazia melhor figura, ganhava com maioria”, disse ao candidato.

... mas reformado espera que não
Em Caxinas, o reformado Mário Gonçalves Ribeiro colou-se à lateral do palco - onde António Costa e Mário Almeida discursavam - não para bater palmas mas para “desabafar”. Quando Almeida pediu mobilização “para dar a vitória ao PS”, o idoso desatou a gritar “espero que não, espero que não”. Enquanto Costa discursava, o reformado acusava a bom som os socialistas de “meterem o país na ruína”.

Os apoiantes foram suportando os apartes e no final duas deputadas e ex-governantes acabaram envolvidas numa troca de palavras com o idoso. Quando o ouviu dizer que o Costa “era o pior que podia acontecer”, Ana Paula Vitorino foi buscar as palavras de um mestre Freitas de Caxinas para contar que o ouvira dizer que “nunca tionha visto uma mentirosa como Maria Luís Albuquerque”. Gabriela Canavilhas chegou-se à conversa enquanto comia uma barra de chocolate. Depois de trocar umas palavras com a mulher de Ribeiro, percebeu que tinha de dizer algo. “O senhor diz isso porque a sua reforma vem da França, se viesse daqui o senhor estava com o Passos por aqui.”

Foi uma batalha dura, que não deu para perceber se o PS saía dos arredores do Porto com uma vitória garantida ou uma derrota inesperada. Os socialistas partiam para estas eleições convencidos da conquista, para se verem com o passar dos dias, enfiados num atoleiro de sondagens e indecisos. Uma espécie de Vietname eleitoral. A desconfiança mantinha-se entre os eleitores, conforme se ouvia em Ermesinde.

Dois homens encostados a uma esquina olhavam para comitiva com ar pouco convencido. Naquele à vontade tão nortenho, por entre uma passa do cigarro, um deles largou a tirada que resumia a indecisão entre PS e a coligação. “Uns batem, outros roubam, foda-se...”

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