PS debate exportação da Saúde à procura de “novo desenvolvimento”
Socialistas organizam mais uma conferência, desta vez sobre como pôr o país crescer. “Soluções diferentes” onde Portugal pode “criar mais valor”.
Estarão presentes peritos próximos do PS – como o ex-secretário-geral Ferro Rodrigues, a ex-secretária de Estado Maria Leitão Marques e o economista que tem colaborado com António José Seguro, Caldeira Cabral – e outros mais distantes como Paulo Trigo Pereira e o fundador da Critical Software, Henrique Madeira.
Caldeira Cabral – que é um dos sete coordenadores da Convenção, explicou ao PÚBLICO que o objectivo da 10ª conferência é debater uma “nova visão sobre o desenvolvimento” capaz de “olhar para soluções diferentes”. Para depois “fazer a escolha certa” em termos do “relançamento do investimento” e da “aposta nas áreas em que Portugal pode criar mais valor”.
Depois dos vários workshops que vão ser organizados sobre vários temas, as propostas serão apresentadas em dois painéis. Um sobre o “Crescimento e Consolidação no Contexto Europeu”, outro sobre “Reforma do Estado, Competitividade e Inovação”.
A dado momento, o economista e professor da Universidade do Minho sintetizou essas “soluções diferentes” para um novo desenvolvimento com um exemplo sui generis. Olhar para a Saúde como um mercado internacional onde Portugal pode competir. Lembrando os muitos programas dos seguros de saúde norte-americanos que enviam para tratamento os beneficiários para países longínquos, Caldeira Cabral abre a porta a uma “colaboração entre hospitais públicos e empresas privadas, em áreas com capacidade excedentária e competitividade”. E identificou essas áreas: cirurgia cardíaca, cuidados continuados, apoio à velhice e fisioterapia.
“É muito diferente para um norte-americano ou um sueco, vir fazer tratamentos a Portugal ou ir fazê-lo à Índia, como acontece actualmente”, argumenta Caldeira Cabral.
O exemplo junta em si dois dos três objectivos que Cladeira Cabral define para o novo desenvolvimento. O primeiro é o de convencer o sector privado a “redireccionar o investimento” para “áreas do sector exportador, dos bens transaccionáveis ou da substituição da importação”. Fazendo o privado – e a banca em especial - perceber que o momento do investimento na distribuição tem de acabar. E facilitando essa mudança através da “criação de estímulos ao investimento privado”, pelo Estado, através de linhas de financiamento, de fundos comunitários, benefícios fiscais e até da contratualização de condições fiscais de médio/longo prazo.
O segundo objectivo passa pelo potenciamento das áreas de valor acrescentado. Apostando na ciência e investigação, definindo “estratégias de colaboração” entre Estado e empresas – como nos “modelos alemão ou sul-coreano” – para ligar o privado aos centros tecnológicos. “Colocar toda a estrutura de conhecimento que Portugal desenvolveu ao longo destes anos ao serviço do crescimento [económico”], resume.
Mas para isso, reconheceu, será preciso também “mudar regras” nas universidades e estruturas de investigação e desenvolvimento do Estado. “Criar incentivos na carreira docente para premiar os professores e investigadores que mais colaborem com as empresas”. Ou criar um departamento em cada universidade que faça “a ponte com as empresas, para que estas tenham a quem possam recorrer quando pretendem solicitar soluções às universidades”.
O que, na prática, é uma “Reforma do Estado”. O economista explica que a inclusão do tema – juntamente com a competitividade e a inovação – resulta da forma como o PS encara essa mesma reforma. “Tem que deixar de se olhar apenas para esse objectivo apenas como uma poupança, mas encará-la no sentido da melhoria da eficiência”. Cabendo assim a um futuro Governo preparar “regras de jogo melhores”, revisitando a regulação dos mercados e até a política de ensino.