Bloco afasta reconciliação com Rui Tavares por causa do PS

Foi uma reunião entre "camaradas da esquerda" com estratégias diferentes para as legislativas.

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Reunião decorreu na sede do BE, em Lisboa Daniel Rocha

A reunião durou cerca de uma hora e realizou-se a pedido do Livre, integrada na ronda de diálogos com partidos que considera da mesma família política. Mas não era sequer preciso que a porta estivesse aberta - não estava - para saber que o clima entre os dois partidos é tenso.

Rui Tavares nunca militou no BE, mas foi eleito ao Parlamento Europeu na lista do partido, em 2009, com quem rompeu em 2011. Na altura, a troca de palavras pública entre o então líder Francisco Louçã e o deputado em Bruxelas terminaria com Tavares sentado na bancada dos Verdes Europeus. A criação do Livre este ano, ainda a tempo de concorrer às eleições europeias, mas com o objectivo definido de disputar as legislativas de 2015, veio agravar a crispação e as críticas do Bloco de que é preciso unir a esquerda e não contribuir para dividi-la.

Quando Tavares falou nesta terça-feira, acompanhado de mais três dirigentes do Livre – Ricardo Alves, Maria João Pires e Renato do Carmo –, vários bloquistas circulavam atentos pela mesma sala, mas do outro lado da estante que divide o espaço. Sorrisos discretos e o foco nas palavras do ex-eurodeputado.

Se Tavares assumiu que “não era o objectivo desta reunião firmar nenhuma convergência”, não deixou de sublinhar as “preocupações comuns” com a “aberração do Tratado Orçamental”, a defesa do Estado Social e da Constituição. Em suma, “é maior aquilo que temos em comum do que em divergência”.

Uma reunião, disse, “muito frutuosa, muito franca, entre camaradas da esquerda”. Para o Livre, o “canal de comunicação entre o Livre e o BE” ficou aberto e os bloquistas foram brindados com o convite de participarem no congresso do partido a 5 de Outubro.

“Não colocar o passado à frente do futuro”, defendeu Tavares. Com uma explicação adicional e um timing definido: “É muito importante que a esquerda à esquerda do PS seja reforçada até às legislativas para ancorar uma governação à esquerda”.

Uns minutos estratégicos de pausa, que permitiram à delegação do Livre abandonar o Martim Moniz, deram então o microfone aos anfitriões da tarde. João Semedo, acompanhado dos dirigentes Jorge Costa, Ricardo Moreira e Joana Mortágua, avisava que ia ser breve. O encontro tinha, afinal de contas, permitido perceber que há “focos” diferentes.

De um lado, bloquistas empenhados em encontrar “políticas alternativas à austeridade”, do outro, o Livre focado numa “aproximação ao PS e num acordo de governação com o PS”.

“O PS não é um partido que seja excluído pela esquerda, exclui-se de políticas de esquerda”, atirou o líder do BE, para reforçar a sua tese de que quem quer governar à esquerda “não pode aproximar-se do PS”.

Sobre a continuidade de diálogo com o Livre, parece difícil saírem nabos desta púcara: “Uma coisa é conversar, outra é não ver que há diferenças políticas claras”.

 
 

   

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