Pressões internas para avanço de Álvaro Beleza nas directas do PS

Facção segurista quer ir a congresso com moção e com lista para a comissão nacional. Eleição do próximo líder parlamentar do PS será na sexta-feira.

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Ex-dirigente do PS anunciou a sua intenção de candidatura no Facebook Nuno Ferreira Santos

O silêncio foi a palavra de ordem nesta segunda-feira entre as hostes seguristas. O ambiente era ainda de “ressaca” e as negociações impunham cautela. Sucederam-se as reuniões entre os membros da direcção demissionária. Em cima da mesa estão ainda todas as decisões em relação ao próximo congresso que o PS terá de realizar devido à saída de cena de António José Seguro.

Equaciona-se uma candidatura contra António Costa nas directas que antecedem o Congresso. Entre os seguristas pesam-se as vantagens e desvantagens desse passo.

Ao que o PÚBLICO apurou, Álvaro Beleza, está a ser desafiado para encabeçar uma candidatura interna. O ainda membro da direcção do PS - que em 1992 disputou a liderança do partido com Sampaio e Guterres num congresso que seria ganho por este último - foi contactado por dirigentes distritais e concelhios e por deputados. E foi também pressionado por elementos da mesma direcção de que faz parte.

A principal razão é a convicção de alguns seguristas de que tem de ser feita em congresso a defesa destes três anos de liderança. A única forma de marcar terreno no congresso através de um debate ideológico e programático é a apresentação de uma moção estratégica. “Houve coisas interessantes que foram realizadas e que terão de ter continuidade”, justificou um socialista próximo de Seguro antes de acrescentar que, a acontecer, essa candidatura serviria, principalmente, para “aumentar e enriquecer o debate político”.

Além disso, alguns dos apoiantes de Seguro consideram necessário que as tropas surjam no congresso com a sua própria lista para a comissão nacional.

Contactado pelo PÚBLICO, Álvaro Beleza recusou-se a fazer qualquer comentário. Além das suas funções como dirigente partidário, Álvaro Beleza tem responsabilidades médicas e académicas no Hospital de Santa Maria.

Mas também há motivos que desaconselham o avanço. A primeira razão é a história socialista: “A tradição do PS é plural, a tradição no PS é haver o envolvimento de todas as sensibilidades”, assinalava um dirigente ao PÚBLICO. A que tinha de se somar o desnivelamento de percentagens entre os dois candidatos. Como, aliás, João Soares – que chegou a ser falado como um potencial desafiador - reconheceu no domingo numa estação televisiva. “Não me parece que isso faça alguma espécie de sentido”, disse.

O espírito combativo da actual direcção não está, portanto, completamente diluído. Um sinal disso mesmo foi a intervenção do membro da direcção, Miguel Laranjeiro, que deixou um caderno de encargos a Costa. "Julgo que estão criadas as condições para uma grande maioria absoluta do partido nas próximas eleições legislativas", disse no Largo do Rato.

Entretanto, Seguro ia dando os passos naturais das consequências por ele retiradas da eleição. O líder demissionário demitiu-se do Conselho de Estado, estando indicado para o seu lugar o sociólogo e professor universitário Alfredo Bruto da Costa. Segundo o Diário de Notícias, Seguro justificou a saída com o argumento de "que a sua indicação decorreu do facto de ser secretário-geral do PS".

Ao mesmo tempo, do lado de António Costa havia nesta segunda-feira um assunto premente a tratar. Com a demissão de Alberto Martins da liderança parlamentar, faltava dar um rosto à oposição em São Bento. Ao que o PÚBLICO apurou a eleição do próximo presidente do grupo parlamentar será marcada para esta sexta-feira. O posicionamento de possíveis candidatos foi ganhando contornos mais definidos. O nome de Ana Catarina Mendes, deputada, nova líder da distrital de Setúbal e directora da campanha de Costa nas primárias, ganhava terreno nesta segunda-feira. Sem certezas definitivas, no entanto, uma vez que do lado do vencedor das eleições de domingo não saiu nenhuma declaração sobre o tema. Mas entre os socialistas é consensual que a nomeação terá de acontecer durante esta semana.

Comissão nacional a 14 de Outubro
Maria de Belém assumiu, entretanto, o seu papel de liderança perante a saída de Seguro. Desconvocou a reunião da comissão política que esta terça-feira iria debater as alterações do sistema político apresentadas pelo líder demissionário. Em contrapartida convocou uma reunião da comissão nacional para dia 14 de Outubro destinada a marcar a data das directas para a eleição do secretário-geral, bem como a eleição dos delegados ao congresso.

Nesta comissão nacional deverá igualmente ser marcada a data do congresso e indicado o local onde este se realizará. De acordo com os estatutos do PS, as directas terão de ocorrer cerca de 60 dias depois da sua marcação. Assim, as directas deverão ocorrer no fim de Novembro ou início de Dezembro e o congresso em meados de Dezembro.

Alberto Martins, também foi arrumando a sua casa. O líder parlamentar demissionário convocou uma reunião da direcção da bancada para a manhã desta terça-feira com o objectivo de formalizar perante o Parlamento a sua demissão, decidir o que fazer a vários agendamentos já marcados, entre eles o potestativo sobre o sistema político previsto para quarta-feira, 1 de Outubro, e marcar eleições para a escolha de um novo líder parlamentar, soube o PÚBLICO junto de um membro da direcção da bancada.

De acordo com as informações recolhidas pelo PÚBLICO, tudo indica que a direcção do grupo parlamentar demissionária irá nesta terça-feira à reunião da conferência de líderes, que se realiza ao meio-dia, formalizar a sua demissão perante a presidente da Assembleia da República, Assunção Esteves, e perante os outros partidos.

Na conferência de líderes parlamentares deverá também ser comunicado o cancelamento do debate potestativo de quarta-feira sobre sistema político, em que seriam debatidos o projecto de deliberação sobre sistema eleitoral no qual a direcção do PS liderada por António José Seguro propunha a redução de 230 para 181 deputados, proposta que foi contestada por António Costa, vencedor das primárias no partido.

 

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