Preocupação indisfarçável
A coligação foi espicaçada pelas propostas do PS.
O Governo está preocupado com esta espécie de ensaio para um programa eleitoral encomendado pelo PS a um grupo de 12 economistas, apresentado publicamente na terça-feira. Ontem, no Parlamento, a intervenção inesperada de Paulo Portas no final do debate sobre o Programa de Estabilidade e Crescimento (PEC) foi a face visível dessa preocupação. Com alguma razão, diga-se. Depois de meses a ironizar ou a desafiar os socialistas a apresentarem alternativas às suas políticas, aí está agora um projecto cujos pressupostos não podem ser facilmente arrasados pela maioria.
Primeiro, porque foi construído por um grupo heterogéneo de economistas, alguns dos quais de pendor bem mais liberal do que muito boa gente próxima do PSD ou do CDS; depois, porque muitas das soluções encontradas não só estão longe de agradar a grande parte da esquerda como são combatidas por ela; e, finalmente, porque o horizonte de alívio da austeridade é bem capaz de seduzir uma parte significativa do eleitorado.
Ou seja, já que não há timing para um regresso à vida antes da crise, então talvez seja mais fácil o amortecedor apresentado pelo PS. Ora é justamente esta ideia que a coligação quer a todo o custo impedir que se instale. Para isso, o contra-ataque do Governo apontou em duas direcções. Logo no início do debate, Maria Luís Albuquerque tentou descredibilizar as contas socialistas, argumentando que se alicerçam numa “colagem de previsões que, no mínimo, não se percebe”. No final, Paulo Portas resolveu apostar na criação de um clima de medo com o fantasma do regresso ao passado. É um argumento já bastante gasto ao longo destes quatro anos de governação e que por isso já não rende como dantes. Até porque, para mal da actual maioria, o PS nem está a prometer mundos e fundos. E é talvez por isso que nem a circunspecta ministra das Finanças conseguiu resistir a uma inesperada quase promessa: diminuição dos prazos de devolução dos salários da função pública.