Portugal precisará que alguém lhe empreste dinheiro depois da troika, diz Ferreira Leite
Segundo a antiga ministra das Finanças, esse cenário implica "algum acordo a médio prazo sobre o futuro do país e sobre o caminho que vai ter de ser seguido" entre "os partidos políticos que são da área do poder".
Manuela Ferreira Leite defendeu esta posição num jantar-debate no Grémio Literário, em Lisboa, dedicado ao tema "Portugal: o presente tem futuro?".
Na sua intervenção, a social-democrata criticou a actual política económica, manifestando-se reticente quanto à possibilidade de o país recuperar o crescimento económico a curto prazo.
Depois de afirmar a sua convicção de que Portugal não conseguirá cumprir os "objectivos mais essenciais" do seu programa de resgate, incluindo o equilíbrio das contas públicas, Manuela Ferreira Leite acrescentou: "Nós não vamos pelos nossos pés, sozinhos, funcionar a partir da data em que a troika abandonar o país. Direi que é praticamente impossível".
"Não é sustentável manter os encargos com a dívida pública à taxa a que a troika nos está a emprestar, que é da ordem dos 3%, menos é possível com as taxas que estão a ser aplicadas quando estamos a ir aos mercados, que andam acima dos 5%. Não é possível, do ponto de vista de contas públicas, haver uma sustentabilidade dessa natureza", argumentou.
"E, portanto, nós vamos com certeza continuar a precisar que alguém nos empreste dinheiro. Não sei qual vai ser o nome que vai ser dado a essa situação em que nos vamos encontrar. Qualquer que seja o nome, nós vamos precisar de ser apoiados", sustentou.
Quanto a quem poderá apoiar Portugal nessa nova fase, declarou: "Penso que o Fundo Monetário Internacional não tem sentido manter-se a apoiar seja o que for, mas entre a Comissão Europeia e o Banco Central Europeu, alguma solução com certeza vai ser dada ao nosso país relativamente a este ponto".
"Acho que não temos hipótese de nos mantermos sozinhos", reforçou.
De acordo com Manuela Ferreira Leite, a necessidade desse apoio futuro e o facto de haver eleições legislativas previstas para 2015 torna o tema do "pós-'troika'" decisivo no plano político.
"Deve ser discutido porque, seguramente, seja com que nome for, ele vai ter uma sequência de algum acordo a médio prazo sobre o futuro do país e sobre o caminho que vai ter de ser seguido. Não duvido, porque são acordos a médio prazo e, portanto, têm de envolver os partidos políticos que são da área do poder", disse.
No seu entender, há "uma necessidade imperiosa de haver um acordo, seja ele de que natureza for, em que fiquem envolvidos os partidos".
No mínimo, gritar com a troika
A ex-presidente do PSD criticou ainda a forma como o Governo tem lidado com os credores internacionais e afirmou que, se lhe coubesse negociar com a troika, "no mínimo, gritava".
"Às vezes perguntam-me o que é que eu faria se lá estivesse. No mínimo, gritava, para alguém ouvir. Não ficava calada de certeza absoluta", afirmou Manuela Ferreira Leite, defendendo que, embora não seja fácil, "há com certeza margem de negociação" com a troika.
A antiga ministra das Finanças, que falava no início de um jantar-debate no Grémio Literário, em Lisboa, dedicado ao tema "Portugal: o presente tem futuro?", respondeu a esta pergunta da seguinte forma: "Eu diria que o presente não tem mesmo futuro nenhum. Ou se altera a actual política económica que tem estado a ser seguida, ou o presente não tem futuro".