Passos responde ao FMI e a críticos internos
Na abertura do Congresso do PSD, o líder do partido e do Governo sustentou que "o país está melhor", acusando a oposição de não o admitir por isso poder ser a sua desgraça eleitoral.
O líder do PSD referiu-se a "algumas vozes" que questionam a sustentabilidade das exportações e do défice, tal como fez o relatório do FMI esta semana. "Há uma pequena ironia nesta dúvida", disse Passos Coelho, acrescentando: "Nos últimos quase 20 anos ninguém se preocupou com a sustentabilidade da economia, nem com o desemprego, nem com a falta de rigor [orçamental] que é a maior ameaça do Estado Social". E o próprio interrogou-se, para deixar um recado, que foi também um apelo ao consenso: "Será sustentável? Dependerá de nós todos. A resposta curta é: com a receita socialista, não, não é sustentável".
Já para dentro, Passos Coelho aproveitou a abertura dos trabalhos para confrontar e desmontar a argumentação dos críticos internos quando se juntam à oposição para acusar o seu Governo de "neoliberal" e de incompetência por poder não atingir a meta do défice. "Lamento profundamente que haja entre nós pessoas que tenham esta perspectiva. Respeito profundamente as diferenças de opinião, nunca ninguém me ouvirá a silenciar seja quem for. Mas ninguém se espantará que debata com eles, como debato com os portugueses", afirmou o líder do PSD.
Fazendo um balanço de dois anos de governação, Passos Coelho sustentou que o país "está melhor", mas garantiu que nunca deitou foguetes. E questionou por que razão não existe vontade do PS em admitir o caminho feito, acusando os socialistas de fazerem estas críticas com fins eleitoralistas. Segundo Passos Coelho, depois de medidas difíceis a expectactiva dos socialistas "era derrotar quem está no Governo". E atacou: "Ainda pensam na possibilidade, ainda que remota, de ganhar as eleições". Para disparar contra António José Seguro, sem o nomear: "A oposição está zangada (…) se recuperarmos, isso pode ser a sua desgraça eleitoral". ´
Passos Coelho lembrou ainda alguns rótulos colocados ao partido: "Houve gente que apelidou de neoliberais ou pasme-se estalinistas. Nestes dois anos dedicámos o melhor de nós próprios a salvar Portugal da bancarrota".
O discurso do presidente do PSD começou por assinalar os 40 anos do partido, os mesmos de democracia. E falou do "receio de descaracterização" para logo de seguida concluir: "Não há hoje menos social-democracia do que há 40 anos quando se constituiu e quando Sá Carneiro e outros deram os primeiros passos na ala liberal". O tema haveria de ser retomado no fim da intervenção – que demorou uma hora e 20 minutos – quando Passos Coelho regressou à História para lembrar as revisões constitucionais e voltar a desafiar o PS de António José Seguro.
Não deixou de elogiar líderes socialistas como Mário Soares e Salgado Zenha para os homenagear enquanto construtores da democracia. Citou também Vítor Constâncio pela coragem que teve em rever a Constituição em 1982, em parceria com o então líder do PSD e primeiro-ministro Francisco Pinto Balsemão. Lançou então o desafio a Seguro: "Julgo que era importante que o PS perdesse o medo", acrescentando que o PS "não pode ficar preso a arquétipos ideológicos".
Apesar deste desafio, Passos Coelho declarou que não irá abrir nenhum debate em torno de uma revisão constitucional. "É mais importante a recuperação económica do que fazer esse debate", justificou. Refira-se que o líder do PSD dedicou longos minutos do seu discurso a argumentar que o seu programa e a sua governação se mantêm fieis à social-democracia e aos princípios fundadores do partido.
O objectivo da recuperação económica é, para Passos Coelho, "os portugueses ascenderem a uma prosperidade, que não seja uma prosperidade artificial cheia de mentiras". Entusiasmado com essa meta, lançou-se para a próxima legislatura: "Não será um acaso acalentarmos a ambição de continuar a guiar os destinos do país, nos anos em que o país precisa de nós".