Passos: “Os portugueses com rendimentos mais baixos não foram objecto de cortes”
Debate quinzenal marcado pelos "mitos urbanos" e a discussão em torno da emigração e saúde.
Foi o secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, quem reagiu de pronto. Sem contestar a ideia dos pobres que teriam ficado à margem dos cortes, o comunista lembrou a “perda do poder de compra” com dois argumentos: “O aumento do custo de vida” e o “aumento desse imposto cego, o IVA”
Mas foi a bloquista Catarina Martins a confrontar mais abertamente a afirmação de Passos Coelho, classificando-a como uma mentira, ainda antes de recordar os cortes em matérias como o rendimento social de inserção, complemento solidário para idosos, subsídio de desemprego e subsídio de doença. "Os senhores da maioria prejudicaram e muito as pessoas com mais baixos rendimentos. Os senhores da maioria PSD e CDS aumentaram a pobreza em Portugal e hoje uma em quatro pessoas é pobre. Mentir sobre isto e um insulto profundo à dignidade humana", atirou Catarina Martins.
Perante a reacção, Pedro Passos Coelho admitiu que era impossível que “a crise não se tivesse reflectido na vida dos portugueses”. Mas depois partiu para a contestação usando os mais variados argumentos. A dado momento, chegou mesmo a afirmar que a subida de uma taxa intermédia para a normal não era uma subida no IVA. ´"Não aumentamos o IVA", afirmou e repetiu.
Até mesmo nos indicadores sobre a saúde Passos Coelho tentou rebater os números da oposição. “A esperança média de vida aumentou. Isso é mau, senhor deputado?”, perguntou a Jerónimo de Sousa já depois de ter recorrido ao tema dos medicamentos para contrariar o cenário da oposição. “Foram vendidos mais medicamentos que nos anos anteriores.” Ao que o líder comunista recordou o drama de muitos idosos que tinham de escolher entre dois males: “Ou comem ou compram medicamentos.”
O mesmo se passou depois de Ferro Rodrigues e Jerónimo de Sousa terem usado os números da emigração para defender o fracasso do Governo. "Em quatro anos, abandonaram o nosso país cerca de meio milhão de portugueses, 485 mil que tiveram de emigrar porque aqui não havia saída para as suas vidas. São dados superiores ao surto de emigração da década de 1960", afirmou o líder do PCP, antes de rematar com uma comparação: “O distrito de Coimbra ficaria totalmente despido de pessoas”, rematou. Antes já Ferro Rodrigues havia alertado para a “degradação dos indicadores demográficos” e a “perda de 200 mil pessoas”
O primeiro-ministro contra-atacou, separando os dados da emigração entre 2005 e 2007 (média de 82 mil portugueses) e entre 2011 e 2013 (95 mil) para sublinhar que a "emigração permanente" diminuíra em 2014, além de frisar ser "falso que tivesse havido mais emigração do que noutros países que também passaram por circunstâncias idênticas", como Irlanda ou Espanha, com um "saldo migratório mais grave".
"Felizmente, Portugal está hoje em condições de dizer que as condições de recessão e forte ajustamento pelas quais o país passou não são hoje as que vivemos e, portanto, temos crescentemente melhores condições para que aqueles que saíram possam regressar e aqueles que estão cá não precisem de sair", afirmou Passos Coelho.
O primeiro-ministro também não deixou ficar sem resposta a provocação de Ferro Rodrigues quando este recorreu a uma série de citações para repescar a ideia dos “mitos urbanos”. Foi a deixa para Passos insistir na ideia de que "não há" frases suas no passado a convidar os jovens a emigrar.
As relativas aos professores, acrescentou, exigiam "uma grande boa vontade e imaginação para verem nisto um convite ao país para emigrar". Heloísa Apolónia, por seu turno, retorquiu: "Toda a gente se lembra que o Governo fez esse convite [à emigração]. E olhe, deu resultado", declarou a parlamentar, trazendo para debate declarações também do ex-ministro Miguel Relvas e do ex-secretário de Estado Alexandre Mestre.