Passos lança Durão Barroso para outro cargo europeu

Intervenção no congresso dos partidos do centro-direita do Partido Popular Europeu (PPE) que constitui o lançamento oficial da campanha eleitoral com a escolha de um candidato à sucessão de Barroso.

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Pedro Passos Coelho GEORGES GOBET/AFP

O lançamento desta candidatura foi feito durante o discurso de Passos ao congresso dos partidos do centro direita federados no Partido Popular Europeu (PPE), que lançou oficialmente a campanha para as eleições europeias de 25 de Maio com a escolha de Jean-Claude Juncker enquanto seu candidato à sucessão de Barroso.

Nos últimos minutos do discurso perante os outros primeiros ministros do PPE e os 812 congressistas reunidos em Dublin, Passos afirmou: “Permitam-me, enquanto português e europeu, uma última palavra de gratidão e reconhecimento ao trabalho de José Manuel Durão Barroso na Comissão Europeia”. Referindo-se aos desafios que o responsável português enfrentou nos seus dez anos em Bruxelas, sobretudo por causa das crises financeira, económica e das dívidas soberanas, Passos considerou que “o seu carácter foi essencial para o reforço das nossas instituições europeias e para esta nova era em que estamos a entrar”. E concluiu, dirigindo-se a Barroso: “Não é candidato à próxima Comissão, mas tenho a certeza, José Manuel Durão Barroso, de que o seu conhecimento será muito útil para todos nós no futuro próximo nas nossas instituições europeias”.

Desta forma, o primeiro-ministro colocou Barroso como um candidato implícito para ocupar um dos cargos dirigentes das instituições europeias que vão ser renovados até ao fim do ano, em concreto, o de presidente do Conselho Europeu (as cimeiras de líderes da UE).

Barroso deixou já claro que o seu futuro não será na Comissão Europeia – o órgão executivo da UE que tem o poder exclusivo de apresentar propostas legislativas aos Governos dos 28 – ao excluir terminantemente a possibilidade de um terceiro mandato.

"Não. Está fora de questão", garantiu em Dublin. O ainda presidente da Comissão, que termina o mandato a 31 de Outubro, nunca escondeu o seu interesse pela presidência do Conselho Europeu, a que chegou a ponderar candidatar-se em 2009, quando os líderes da UE procuravam o seu primeiro ocupante. A preferência de Barroso acabou por pender para um segundo mandato na Comissão, de modo a poder igualar o percurso do seu mítico antecessor, Jacques Delors, o único presidente que exerceu o cargo durante dez anos.

O nome de Barroso é referido no interior do PPE como uma possibilidade para o Conselho Europeu caso venha a ser necessário desempatar o verdadeiro xadrez em que a escolha dos novos dirigentes das instituições europeias está em risco de se tornar. O actual presidente, o belga Herman Van Rompuy, que termina o mandato no fim do ano, também abandona de vez o cargo.

O principal adversário de Barroso será Jean-Claude Juncker, se por alguma razão não puder assumir a presidência da Comissão a que é o candidato do PPE.

Tudo dependerá antes de mais do resultado das eleições europeias: se forem os socialistas os mais votados, o seu candidato, o alemão Martin Schulz, será o melhor colocado para suceder a Barroso. Nesse cenário, nomeadamente, os 28 poderão oferecer a Juncker a presidência do Conselho Europeu. Nada garante, no entanto, que a Alemanha e outros países tenham um entusiasmo particular por esta solução. Foi a chanceler alemã, Angela Merkel, aliás, com o apoio do então presidente francês, Nicolas Sarkozy, que bloqueou em 2009 a nomeação de Juncker para primeiro presidente do Conselho Europeu, preferindo atribuir o posto a Van Rompuy.

É esta ambiguidade de Berlim que leva algumas fontes do PPE a garantir que Barroso está longe de excluído do leque de alternativas. Isto embora sabendo que, entre os 28, vários outros primeiros ministros europeus também visarão o cargo, e considerarão seguramente que depois de dez anos na Comissão, o português deverá ir para o fim da fila.

“Salvámos o euro”
No seu discurso perante os congressistas, Passos afirmou, por outro lado, que foram os líderes dos partidos do PPE que salvaram a Europa e o euro da herança dos governos socialistas devido à determinação com que enfrentaram a crise da dívida com reformas que começam a abrir “uma nova perspectiva de prosperidade e maior liberdade para as novas gerações”.

“Este esforço que fizemos e esta agenda produziu resultados porque tivemos a nível europeu e nacional políticos com coragem para adoptar reformas que dão sentido aos sacrifícios e um futuro melhor para as novas gerações”, afirmou. Mas, frisou, a crise foi ultrapassada também “porque os nossos povos demonstraram que podem aguentar grandes sacrifícios, e fizeram-no com o realismo dos que são capazes de olhar de frente para os factos” e não com “retórica política”.

“Não foi o populismo e a demagogia dos nossos adversários que fez a retoma, pelo contrário, foi a determinação, a necessidade e a vontade de lutar contra a crise”, sublinhou, considerando que não se pode “vender a alma ao diabo da demagogia”. Segundo o primeiro-ministro, ainda, “parte da crise já passou”, mas “a retoma requer tempo, paciência e persistência”, e não o “excesso de simplificação e os castelos no ar” dos adversários políticos.

De manhã, o vice-primeiro ministro, Paulo Portas já tinha defendido que “imaginar que se pode não reformar [as economias] é vender ilusões”. No entanto, referiu, é preciso fazer as reformas “ao lado dos actores sociais, os que representam os empresários e os que representam os trabalhadores” e “partilhar os frutos do crescimento” numa “lógica económica mas também social”.

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