Passos diz que em termos relativos é Portugal que "mais tem ajudado a Grécia"

O Governo procurou desvalorizar o apelo de 32 personalidades, ontem divulgado pelo PÚBLICO, para uma nova atitude face à Grécia. António Costa, pelo contrário, apoiou a ideia, enquanto as autoridades de Atenas atribuem à “política interna” a razão de ser da atitude de Lisboa.

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Eurodeputado do Syriza atribui intransigência dos governos de Portugal e Espanha à política interna dos dois países Pierre-Philippe Marcou

Numa primeira fase, a crer nas palavras do porta-voz do Conselho de Ministros, Marques Guedes, que garantiu não ter lido a carta, o primeiro-ministro não teria prestado atenção ao conteúdo do apelo. Mas ontem à noite, Passos Coelho acabaria por falar dela em declarações à imprensa, em Bruxelas: “Tive a ocasião de ler a carta. Ela parte de um equívoco. Somos seguramente o país na Europa, em termos relativos, que mais tem ajudado a Grécia na Europa. Sempre dissemos que a Grécia é um caso único.’”

Em Bruxelas, no mesmo dia, encontrava-se também o líder do PS, António Costa, que participou num encontro dos socialistas europeus. A sua reacção à carta divulgada pelo PÚBLICO não podia ser mais diferente da que o Governo escolheu. Subscreveria a carta? “Sim, com certeza”, respondeu à agência Lusa.

“A ideia de diabolizar e isolar a Grécia é uma ideia errada e perigosa”, afirmou Costa, criticando ainda o “ erro persistente” do Governo português que, na sua opinião, mantém uma injustificada “fé de que da austeridade vai resultar o crescimento”. “Bom, depois de três anos de experiência, há um resultado muito claro: a austeridade fracassou do ponto de vista político e fracassou do ponto de vista económico. Do ponto de vista económico, gerou deflação e gerou desemprego; e do ponto de vista político só tem vindo a fortalecer os radicalismos”, acusou o líder do PS.

Contrariando ainda as afirmações de Passos Coelho, no fim de semana, que apontou a situação “singular” de Atenas, Costa segue os signatários da carta: “Não há uma questão grega. Há uma questão europeia e que deve ter uma resposta europeia, e essa resposta deve-se centrar, em primeiro lugar, numa resposta positiva às situações de catástrofe social que se vivem em vários países, e em particular nos países sujeitos ao ajustamento, como acontece na Grécia, como acontece em Portugal, como acontece em Espanha.”

O Conselho Europeu em que o primeiro-ministro participou destinava-se, inicialmente, a debater a situação na Ucrânia e o terrorismo, mas após a vitória do Syriza nas eleições gregas de 25 de Janeiro, a crise na zona euro justificou um ponto adicional neste encontro. António Costa juntou estes assuntos todos numa frase: “O conflito na Ucrânia e a situação no Médio Oriente exigem um reforço da coesão europeia, exigem uma Grécia de pleno direito na UE.”

O PS tem vários dos seus dirigentes entre os 32 signatários da carta. Desde logo o seu presidente, Carlos César, mas também o líder parlamentar, Ferro Rodrigues. À saída de uma reunião dos deputados socialistas, em Lisboa, Ferro disse ontem aguardar uma resposta à carta que subscreveu: “Normalmente, todas as cartas têm resposta. Não sei como [o primeiro-ministro] o fará. Às vezes, não escolhe as formas mais elegantes de o fazer. Esperemos que, desta vez, o faça de uma maneira muito elegante que seria ter uma posição bastante diferente da tomada ontem [quarta-feira] pelo Governo português na reunião do Eurogrupo e possa perceber que esta é uma oportunidade para Portugal e para que a Europa vire”, afirmou Ferro Rodrigues à Lusa.

A posição defendida por Portugal na reunião do Eurogrupo, onde esteve a ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, foi alvo de várias interpretações na imprensa internacional. O próprio Governo grego terá avançado uma explicação para que Portugal e Espanha se contassem entre os mais inflexíveis dos membros da zona euro face às propostas apresentadas pelo ministro grego das Finanças, Yanis Varoufakis. Fonte do Governo de Atenas disse à Lusa que tal se deve a questões de “política interna”.

Um eurodeputado do Syriza, partido maioritário da coligação que governa em Atenas, Dimitrios Papadimoulis, avançou à Lusa que a proximidade das eleições e as posições das oposições internas em Portugal e Espanha são as razões que explicam a linha seguida pelos dois países ibéricos: “[Mariano] Rajoy tem um pesadelo que se chama Podemos [partido próximo do Syriza que aparece nas sondagens a disputar a vitória nas eleições] e Passos Coelho também tem a pressão dos partidos da oposição. Não é meu papel julgar dois primeiros-ministros, mas entendo claramente as razões que os levam a fazer o que estão a fazer agora, e não é no interesse do seu povo, é no interesse das suas carreiras políticas.”

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