Passos: Discutir nacionalização do Novo Banco é atrair para Portugal "atenções negativas do mundo"
Líder do PSD diz que nacionalizar o banco vai custar aos portugueses 4,9 mil milhões de euros.
O líder do PSD, Pedro Passos Coelho, admitiu esta quarta-feira à tarde no Funchal não perceber o debate em torno de uma possível nacionalização do Novo Banco, frisando que essa discussão vai “fragilizar” a imagem do país no exterior, atraindo para Portugal todas as “atenções negativas” do mundo.
“Eu acho que se nós quisermos atrair todas as atenções negativas do mundo sobre Portugal, então devemos fazer aquilo que a maioria está hoje a fazer, que é discutir a nacionalização da banca, a reestruturação da dívida, a nacionalização da TAP e por aí fora”, disse Passos Coelho no final da visita a uma exploração agrícola na Madeira.
O responsável social-democrata, que esteve no Funchal a apresentar a recandidatura à liderança do partido aos militantes madeirenses, não entende como é que por um lado está o Fundo de Resolução “empenhado” na venda do Novo Banco, e por outro se está a colocar a hipótese de nacionalizá-lo.
Mas concorda com a nacionalização? Passos, devolve a pergunta aos jornalistas. “Enquanto se está a tentar vende o banco para não ter prejuízo, acha que faz algum sentido alguém pôr a hipótese de fazer a nacionalização do banco?” Então, continuou, era melhor o Governo admitir que não quer vender "e dizer aos portugueses que quer que sejam eles a pagar" a nacionalização do Novo Banco.
Nas contas do Passos Coelho a operação, que o PCP diz ser meramente contabilística, vai custar 4,9 mil milhões de euros. Uma coisa, argumenta, foi o Estado ter emprestado esse montante com juros, outra totalmente diferente é perder esse dinheiro.
“A última coisa que nos interessa nesta fase é andar a falar de restruturação de dívida, andar a falar de nacionalização de bancos, ou da nacionalização da TAP”, insistiu, argumentando que estes debates estão a minar a confiança que as reformas feitas nos últimos anos trouxeram para o país.
CDS-PP nem sequer admite "falhanço" da venda
Por seu lado, o deputado do CDS-PP João Almeida recusou admitir sequer o "falhanço" da venda do Novo Banco ou a sua nacionalização, alertando ainda para a necessária responsabilidade nas declarações públicas de Governo, PS e outros partidos da maioria.
"Admitir essa hipótese é, desde logo, admitir uma hipótese de falhanço que, enquanto o PSD e o CDS estiveram no Governo, nunca admitiram e que entendem que o PS não deve admitir", afirmou o também vice-presidente democrata-cristão, nos passos perdidos do parlamento.
Para João Almeida, "os contribuintes portugueses, nos últimos anos, têm sido várias vezes chamados a pagar prejuízos e 'buracos' da banca privada por ausência de uma supervisão eficaz", algo que o CDS "tem denunciado inúmeras vezes".
Antes, o vice-presidente da bancada parlamentar socialista João Galamba frisou a intenção de vender o Novo Banco a privados, sendo a sua manutenção sob controlo público o último recurso, caso não existam compradores e ofertas válidas, após o PCP ter apresentado um projecto de resolução no sentido da manutenção daquela instituição bancária sob controlo público.
"Temos de perceber que o mercado vai evoluindo e que já está investido no Novo Banco um valor substancial que é dos contribuintes portugueses e a prioridade de qualquer Governo deve ser recuperar esse dinheiro. Para nós, o caminho não é o de nacionalizar, que significaria perder tudo o que o Estado emprestou ao Novo Banco, é exatamente o contrário: criar condições para a venda", continuou o parlamentar centrista.
Na terça-feira, o primeiro-ministro e líder socialista, António Costa, afirmou que "a pressa é má conselheira" e há que "dar tempo para se encontrar uma boa solução" para o Novo Banco, depois de o Estado ter investido cerca de 4,9 mil milhões de euros para recapitalizar o fundo de resolução bancária.
"Devemos ter muita responsabilidade quando fazemos declarações em termos públicos e isso é especialmente relevante para o Governo, o PS e os partidos que apoiam o PS - não fazer com que as nossas próprias declarações com que se torne mais difícil vender o banco", vincou João Almeida.
Na segunda-feira, o economista, conselheiro de Estado de Cavaco Silva e ex-presidente do Novo Banco, Vítor Bento, admitiu que a nacionalização daquela instituição bancária poderá ser "uma saída possível", considerando que "a venda não será já muito favorável". com Lusa