O segredo de Costa e César
O destino deste Governo passa muito pelas mãos deles.
Muito contrariado, Cavaco Silva acabou por “indicar” António Costa e não indigitar, como refere a Constituição. A troca de verbo não é um acaso, mas antes a deliberada exposição pública do estado de alma do Presidente na hora de anunciar a decisão sobre o nome do futuro primeiro-ministro. Esse acto selou, em definitivo, a natureza do próximo Governo. PSD e CDS não tardaram a mostrar um descontentamento visceral, prenúncio de que a solidão bem poderá ser a grande companhia de Cavaco nestes seus últimos dias em Belém.
Indiferente às feridas abertas à direita, António Costa foi célere em tirar o Governo do bolso. A expectativa era grande não só sobre os nomes, mas sobretudo no capítulo da organização e estrutura da nova equipa. Falou-se em ministros transversais, capazes de intervir em vários sectores, mas a ideia parece ter sido reduzida às áreas do Mar e da Modernização Administrativa. Pensava-se que era desta que o país ia ombrear com os padrões nórdicos em termos de exigência paritária e, afinal, num Governo com 17 pastas, António Costa só conseguiu incluir quatro mulheres. Onde está o autarca de Lisboa que tinha um executivo paritário? Em vez de um Governo de combate, com predomínio das áreas políticas e com forte tutela de ministros políticos, temos, pelo contrário, uma equipa com muita gente sem experiência governativa e a extinção dos titulares dos Assuntos Parlamentares e da Presidência do Conselho de Ministros. É certo que Costa tem a vantagem de estar rodeado da sua gente, capaz de blindar decisões, unificar a acção e concentrar a mensagem. Mas não corre o risco de se isolar? É uma incógnita porque, no essencial, o destino deste Governo depende mais do que se passar em S. Bento, do que das reuniões semanais na Gomes Teixeira. Porque não há apenas António Costa e a sua equipa, mas também Carlos César e o seu grupo de negociadores. O segredo está na qualidade da articulação entre ambos.