“O que é que o senhor está a fazer aí?”, pergunta Seguro a Passos

Líder do PS questiona o primeiro-ministro se ainda pensa que quem impõe sacrifícios e não cumpre os seus objectivos deve ser “responsabilizado civil e criminalmente pelos seus actos”.

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Seguro, a 1 de Fevereiro deste ano Rui Gaudêncio

 

“O que está a fazer à frente do Governo perante uma nova quebra das exportações, perante um novo aumento da taxa do desemprego, com regiões com 20%?”, insistiu o líder socialista. E perante este cenário “o que é que os portugueses ouvem do primeiro-ministro?”, voltou a questionar Seguro, para responder logo a seguir: “Ouvem que os números estão em linha de conta com as previsões do Governo.”

“E o porta-voz do Governo respondeu ontem que estes assuntos não foram alvo de discussão na reunião do Conselho de Ministros”, acrescentou ainda o líder socialista para mostrar a “insensibilidade” do executivo ante a realidade. “Senhor primeiro-ministro, o que está a fazer à frente do Governo? Os portugueses querem que lhes diga as soluções que tem para os problemas.”

Mas o dedo em riste de Seguro não ficou por aqui, classificando o primeiro-ministro como a “maior tragédia que o país enfrenta”, afirmando que “a política de Passos é que agravou os problemas do desemprego”. Mais: o primeiro-ministro recusa admitir que falhou nos objectivos traçados e isso é sinal, para Seguro, da sua “impreparação e incompetência” e da sua “profunda inconsciência da realidade social e política” do país.

Uma acusação que Seguro usou para chegar a um outro ponto. “Não se pode permitir que os responsáveis pelos maus resultados andem sempre de espinha direita, como se não fosse nada com eles. Quem impõe tantos sacrifícios às pessoas e não cumpre merece ou não ser responsabilizado civil e criminalmente pelos seus actos?”

Passos agarrou nas cábulas para lançar a Seguro as derrapagens das previsões socialistas de 2009: um défice de 2,2% e uma dívida de 64% na proposta de Orçamento do Estado acabaram corrigidos, em Setembro desse ano, para 9,3% de défice e 83% de dívida.

“Parece-lhe que isto é um governo que acerte muito?”, questionou Passos Coelho, considerando Seguro “um ilustre herdeiro tão crítico”.

O líder socialista não se ficou e respondeu que “o país precisa de um primeiro-ministro que responda aos problemas dos portugueses; não precisa de um primeiro-ministro que faça oposição ao passado”.

Ao contrário do debate anterior, há duas semanas, em que a bancada socialista esteve boa parte do tempo com poucos deputados, hoje o PS mostrou-se bem mais unido. Houve aplausos nas intervenções de Seguro, e várias vozes de deputados elevaram-se com apartes críticos e de protesto quando Passos Coelho falou. Pedro Silva Pereira foi um dos mais activos, gritando ao primeiro-ministro “falhou, falhou” e “incompetência”.

O líder socialista avisou que na reunião que terá com a troika, no âmbito da sétima avaliação, a partir de dia 25, vai dizer à troika que “chega”, que “o país precisa de renegociar uma nova consolidação das suas políticas para colocar o crescimento e o emprego no topo das suas prioridades”.

Foi o suficiente para Passos Coelho mudar de inquirido para inquiridor, pedindo a Seguro que explique o que significa para o PS essa “nova estratégia de consolidação” – se é “gastar mais”, ou “negociar um défice superior para poder gastar mais”, ou “aliviar os impostos” ou, no geral, “é não respeitar aquilo que foi acordado”.

Seguro voltou a tocar no assunto dos 4000 milhões de euros, realçando que esse corte não está no memorando. “Não esconda nada: onde é que são esses cortes?”, perguntou, adiantando depois que o PS vai propor um debate sobre “estratégias de consolidação orçamental” e convidou o primeiro-ministro a participar.

Ao que Passos retorquiu: “O seu interesse pelos cortes é inversamente proporcional à sua vontade de responder sobre o que é a sua nova estratégia de consolidação.” 
 

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