O concelho com maior taxa de crescimento do desemprego

No espaço de dois anos, na Praia da Vitória, onde está instalada a Base das Lajes, a taxa passou de dez para os 20 por cento.

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Saída dos norte-americanos provoca “danos colaterais” Miguel Madeira

A família norte-americana que, de há dois anos para cá, garante o sustento de Paula Marques Leal, à conta da guarda do seu “menino” de cinco anos, em Porto Martins, está de malas aviadas para os Estados Unidos. Em Fevereiro, a comissão de dois anos destes americanos termina e Paula fica sem emprego.

O PÚBLICO conheceu a açoriana em sua casa há dois anos, quando esteve na ilha Terceira. Há 14 anos que trabalha “sempre com famílias americanas”. Faz os trabalhos domésticos e toma conta das crianças. São 25 euros por dia por uma jornada que começa às 6h30 e termina às 19h30.

A açoriana passará a fazer parte dos danos colaterais de uma decisão tomada a milhares de quilómetros de distância. Mas em relação à qual “a grande maioria dos estragos já estão feitos”. Quem o diz é Roberto Monteiro, presidente da Câmara da Praia da Vitória, concelho onde se localiza a base e onde se concentram os trabalhadores que dela dependem.

O autarca garante que foi no seu concelho que “mais cresceu o desemprego em Portugal nos últimos dois anos”, passando dos “10 para os 20%”. As estatística parecem confirmar. De acordo com os dados disponibilizados pelo site Pordata, entre 2011 e 2013, os desempregados inscritos nos centros de emprego apontavam para uma subida de 571 para 1008 pessoas naquele concelho. 

Paula Marques Leal faz parte do universo que Monteiro identifica como o dos que vão sentir mais duramente o impacto da redução da presença norte-americana. A “destruição de emprego indirecto” vai afectar, pelas contas do autarca, 110 pessoas. Mecânicos, jardineiros e baby-sitters. A juntar aos cerca de oitocentos portugueses que trabalhavam na base, são “dois mil empregos destruídos numa população activa [do concelho] de nove mil”.

Vai tocar a todos. Na casa dos Leal ainda mais. Há dois anos que o marido de Paula Marques Leal também já sentia que as coisas se estavam a “complicar”. Os números de chamadas para os seus trabalhos de carpintaria foram diminuindo.

Mas não é só nessa franja da população activa que a redução vai fazer mossa. A classe mais abastada da ilha também verá as suas contas bancárias emagrecer. Desde o anúncio em 2012 que avançou a “primeira fase da redução”. Porto Martins fica numa zona próxima das Lajes, onde abundam vivendas viradas para o mar. Espaço nobre para o mercado de arrendamento à custa dos militares americanos. Só que, como refere Roberto Monteiro, “no espaço de dois anos [a Praia] praticamente ficou sem famílias americanas”. Os norte-americanos aproveitaram a rotação do contingente para instalar na ilha militares sem família. Onde antes se “arrendavam 500 casas, agora restam 30 ou 40”, contabiliza o autarca. A tendência já se notava há dois anos. É um rendimento extra de muitos terceirenses que desaparece. Um destes, um bancário em Angra do Heroísmo que pediu para não ser identificado, reconhecia há dois anos ter já “duas casas vazias”. “E familiares meus também”, acrescentava. São menos 1500 euros a entrar todos os meses.  

As marcas da passagem americana ficam como uma ferida exposta. Até mesmo ao lado da vivenda de Paula Marques Leal. É aí que está estacionado o monovolume que uma americana lhe “deixou”. Prova de amizade, mas também das oportunidades perdidas. O carro quase nunca sai dali. Afinal, para legalizar o veículo e receber matrícula portuguesa exigem-lhe 25 mil euros. Dinheiro que a família Leal não tem.

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