Maioria e partidos de esquerda questionam onde estão as propostas alternativas para o país

O vice-presidente do CDS diz que o novo sectário-geral do PS fechou a porta a um eventualmente entendimento com a direita e que vai fazer acordos com o PCP o Bloco e o Livre.

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Paulo Pimenta

O vice-presidente do CDS-PP, Nuno Melo, acusou este domingo António Costa de ter feito um “congresso cheio de proclamações em vez de ter apresentado propostas para o país”. E declarou que o secretário-geral do PS inviabilizou um compromisso com a direita com vista a um futuro Governo.

“Não entendo como é que alguém que foi candidato a primeiro-ministro e que depois foi eleito secretário-geral do PS não tenha apresentado um programa de governo. Não o fez na altura e não o fez neste congresso, atirando esse assunto para um grupo de portugueses”, disse Nuno Melo aos jornalistas, no final da sessão de encerramento do XX Congresso do PS, onde participou em representação do CDS-PP.

Nuno Melo tomou nota da abertura que António Costa manifestou em relação ao Livre, um partido sem representação parlamentar e que ainda não tem votos” e condenou-a, afirmando que “o discurso de António Costa no congresso foi feito de frases proclamatórias e propostas quase nenhumas”.

“O PS vai fazer acordos com o PCP, o Bloco de Esquerda e o Livre e nós continuaremos a governar com moderação. Nós somos a imagem de algum bom senso”, afirmou o vice-presidente do CDS, revelando que trazia alguma expectativa em relação ao discurso do novo líder socialista.

“Ouvimos aqui alguém pedir uma maioria absoluta sem que os socialistas se lembrassem que as pessoas que se encontravam na primeira fila eram ex-ministros e ex-secretários de Estado, foram os responsáveis que estiveram no Governo até há três anos”, afirmou Nuno Melo, declarando que “quem tirou a troika de Portugal foi este Governo”.

E a concluir disse: ”António Costa foi omisso quanto à dívida pública e equívoco quanto ao défice. Quem lidera um partido tem de ter ideias e este foi um congresso proclamatório para agradar às massas”.

Também do lado da actual maioria, o porta-voz do PSD, Marco António Costa criticou as "omissões" do discurso do novo secretário-geral socialista, considerando que faltou contar a história que o país viveu nos últimos anos.

"Este é um discurso que está cheio de omissões, faltou aqui contar uma história importante, que é a história que o país viveu nos últimos anos, houve aqui uma omissão muito importante que é recordar que houve uma confiança que foi traída ao povo português em 2011, quando o país foi lançado na bancarrota", afirmou.

Lembrando "os três anos de dificuldades" que os portugueses viveram, Marco António Costa lamentou igualmente que o secretário-geral socialista não tenha deixado uma palavra sobre "as conquistas dos portugueses nos últimos três anos".

"Estamos a falar de um discurso de faz de conta. Faz de conta que não existe passado, faz de conta que nestes três anos o PS não mexeu um dedo para ajudar a resolver os problemas do país, faz de conta que quer diálogo, mas depois diz que só haverá diálogo após as eleições, faz de conta que tem soluções para o país, mas só daqui a alguns meses é que apresentarão as suas ideias", acrescentou.


Agarrado à direita
Do lado do PCP, o membro da comissão política Carlos Gonçalves acusou o PS de permanecer "agarrado à política de direita".

"Este congresso do PS, na nossa opinião, independentemente da rotação dos quadros da direcção e uma ou outra proclamação que podemos registar, o que o caracteriza é que, quanto ao essencial, permanece agarrado à política de direita", afirmou.

Para o dirigente comunista, "se os portugueses, hoje, esperavam aqui alguma novidade, por muito interessantes e diferentes que sejam estes discursos, de facto, não houve nem uma proposta séria para romper com a política de direita e para termos uma alternativa patriótica e de esquerda".

"António Costa não disse nada sobre o abandono de políticas que têm sido seguidas durante estes 38 anos. Relativamente à política da dívida, não foi capaz de utilizar as palavras ‘renegociação da dívida'. Sobre o Tratado Orçamental, que prolonga o pacto de agressão, nada disse. Foi incapaz de falar de salários", criticou ainda Carlos Gonçalves.

No mesmo tom, Helena Pinto, do BE, apontou "omissões graves" ao discurso de Costa, acusando o PS de estar "apostado em ter o poder".

"Peca por omissões graves em termos de soluções políticas para o país. Não ouvimos António Costa falar sobre a dívida e a reestruturação, sobre a reposição dos salários aos portugueses e portuguesas, assim como não ouvimos também uma posição clara sobre a sobretaxa do IRS", enumerou a deputada e dirigente do Bloco.

Livre apela à clarificação à esquerda
Convidado especial de António Costa, o partido Livre apelou antes a uma clarificação de todos os partidos à esquerda sobre como combater as actuais políticas de austeridade.

"Não temos, nem temos de ter uma leitura do discurso do PS", disse o ex-eurodeputado independente pelo BE Rui Tavares, considerando que o PS fez "um discurso de partido de centro-esquerda".

Para o membro do grupo de contacto do Livre, "é preciso que todos os partidos que estão contra o caminho que está a ser seguido acrescentem a esse 'contra', que é muito importante, um 'como', ou seja, "como é que pensam governar contra estas e implementar outras políticas".

"Que todos os partidos, não só o Livre, o PS, o PCP, o BE, não só os cidadãos de esquerda, mas todos os cidadãos assumam as suas responsabilidades. As responsabilidades assumidas pelo Livre, que encontrou uma estratégia conjunta para uma candidatura cidadã, é de assumi-las e dizer que é preciso trazer soluções para o país e que passam por resolver a crise da representação também ao nível da governação", declarou Rui Tavares.

O recém-formado partido pretende agregar numa candidatura às próximas legislativas um movimento que integra elementos das Associações Fórum Manifesto, Renovação Comunista e outras personalidades de esquerda, entre outras organizações, que incluem outros dissidentes bloquistas como Ana Drago e Daniel Oliveira.