Nome de João Soares pode ser a aposta da actual direcção para enfrentar Costa
Na facção segurista já se pondera o que fazer no caso de uma derrota nas primárias. Há quem não queira que Congresso seja um passeio para o autarca.
E já se ponderam, igualmente, quais os nomes mais bem colocados para fazer frente a esse futuro. João Soares tem sido tema de conversa, apurou o PÚBLICO.
Se o combate das primárias for ganho por António José Seguro, não haverá lugar a congresso, porque o secretário-geral não precisa de ser relegitimado, uma vez que foi reeleito há pouco mais de um ano.
No entanto, o cenário muda completamente caso seja António Costa a vencê-las. Os apoiantes do secretário-geral não pretenderão deixar o caminho livre e, segundo adiantaram ao PÚBLICO fontes socialistas, inclinam-se para apresentar listas aos órgãos do partido. Na hora de fazer as listas de deputados à Assembleia da República, terão uma percentagem que lhe garante alguns lugares.
Dirigentes socialistas contactados pelo PÚBLICO confirmam que a discussão já começou a ser feita, havendo um nome que tem sobressaído. Ricardo Gonçalves – um dos apoiantes de primeira hora de Seguro – admite ser “uma hipótese” o avanço do ex-presidente da câmara de Lisboa, João Soares, em representação do PS segurista.
O bracarense sublinhou ser esse um cenário para contemplar realmente apenas na eventualidade da derrota nas primárias. Mas, a verificar-se, o currículo de Soares é forte. “Não vejo mais ninguém com a capacidade e a dimensão nacional para o fazer”, reconheceu sobre o agora deputado que já disputou a liderança do PS contra José Sócrates e Manuel Alegre. “É um homem corajoso, não sei é se o pretende fazer”, afirmou.
“João Soares tem tido um papel muito interventivo e crítico na campanha das primárias, sobretudo nas redes sociais, onde dispara contra António Costa, Almeida Santos, Ferro Rodrigues, todos apoiantes do presidente da Câmara de Lisboa”, afirmou ao PÚBLICO outro socialista, lembrando que João Soares tem uma “vingança pessoal” contra Costa que já é antiga.
O próprio, no entanto, recusa abordar a questão. “Não falarei nunca num cenário desses”, disse ao PÚBLICO, antes de lembrar que o partido está a dias de realizar as primárias.
Ricardo Gonçalves admite que, perante o eleitorado, o avanço de uma candidatura alternativa - em Congresso e directas para secretário-geral - ao vencedor das primárias poderá gerar anti-corpos. “Na mente das pessoas, quem ganha agora, ganha tudo”, avalia.
Mas o socialista lembra que noutro países não é assim. "François Hollande, quando avançou para a presidência, não era líder do PSF”, sublinha Gonçalves, antes de destacar as vantagens de ter outro nome à frente do partido que não o candidato a primeiro-ministro. “O partido pode ser um grupo de reflexão que discute e negoceia com o candidato a PM o que vai fazer no cargo. [Com as primárias] vamos escolher um candidato a PM, não um ditador. Esse candidato não pode sentir-se dono disto tudo”, defende.
Alguns dos socialistas que estão com Seguro defendem que “o líder ganhador tem de dar provas de uma enorme grandeza política porque isso é fundamental para unir o partido”. De resto, João Proença, director de campanha de António José Seguro, já veio defender isto mesmo. Em declarações ao SOL, afirmou esperar que o vencedor das primárias, seja qual for, dê lugares no partido a quem ficar na oposição interna.