Naturalmente demita-se, sugere Mário Soares a Cavaco Silva

O histórico socialista considera que o Governo e Presidente da República devem demitir-se "enquanto é tempo".

"A Constituição manda que o Presidente aceite a Constiuição, respeite a Constituição e faça o que deve. Ora, não é o que está a acontecer", advoga Mário Soares na entrevista concedida ao jornalista Paulo Magalhães."Naturalmente eu acho que o Presidente da República devia demitir-se porque está numa situação impossível. À partida só fala com um partido e isso não tem sentido nenhum", reforça.

O fundador do PS reforça, assim, o que escreveu na terça-feira, no Diário de Notícias, sob o título "Uma oportuna homenagem" ao primeiro Presidente da República eleito democraticamente, António Ramalho Eanes. O artigo de opinião, divido em três partes, começa por um elogio à actuação de Ramalho Eanes. O primeiro parágrafo já deixa antever a crítica cerrada que Mário Soares fará ao actual Presidente da República.

Soares, admitindo as divergências históricas, caracteriza Ramalho Eanes como "um presidente importante, cumpridor da Constituição, que jurou respeitar e fazer cumprir" e aconselha o actual Presidente a seguir-lhe o exemplo "de honestidade à prova de bala e que soube cumprir a Constituição da República". E logo ali deixa claro que considera que Cavaco Silva "não faz caso da Constituição que jurou cumprir e fazer respeitar".

Na segunda parte do seu artigo, "Portugal vai cada vez pior", Mário Soares não poupa críticas ao Governo de maioria PSD/CDS que acusa de estar "a destruir tudo o que resta do património português e a caminhar para uma espécie de nova ditadura". Governo que, nas palavras do histórico socialista, só existe graças à "protecção anticonstitucional do Presidente Cavaco Silva".

"Se o Presidente fosse politicamente neutro, como manda a Constituição vigente, este Governo, totalmente impopular, estava há muito demitido", reitera o socialista.

Assumindo que, com estas e outras palavras não tem como objectivo a humilhação pública dos intervenientes, Mário Soares lança um alerta "enquanto é tempo", para a "violência que aí vem" e reforça "Demitam-se, pois, enquanto é tempo: Presidente e Governo. Antes que lhes aconteça o pior".

O vetereano "que ainda não arrumou as botas" pede ainda ao Presidente da República que reflicta e que "não se convença de que os seus pedidos para que o Partido Socialista possa fazer acordos de última hora com um Governo que o humilhou durante dois anos tenham qualquer possibilidade de ser aceites". 
 

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