Mariano Gago critica Parlamento e faz violento ataque às ordens profissionais
Mariano Gago falava nas Jornadas Parlamentares do PS, no Porto, que hoje são encerradas pelo primeiro-ministro, José Sócrates. Perante os deputados socialistas, Mariano Gago fez um longo discurso sobre o estado da Ciência e do Ensino Superior, com críticas à actuação da Assembleia da República e de “todos os partidos”.
Num dos pontos mais polémicos da sua intervenção, o ministro da Ciência condenou “a tolerância do Parlamento relativamente à criação e funcionamento das ordens profissionais em Portugal”, dizendo que tal gera “um condicionamento do mercado de trabalho”.
“Com toda a franqueza, este é um dos fenómenos mais extraordinários que ocorre neste país. A complacência, a cedência corporativa a quem chateia o parlamento com o argumento de que não se pretende fechar o mercado de trabalho - que ideia! - e apenas se quer fazer deontologia, é absolutamente extraordinária”, protestou Mariano Gago. Depois, o ministro da Ciência contou o que lhe acontece no quotidiano logo a seguir, quando recebe os representantes dessas ordens profissionais no seu gabinete.
“Chegam lá ao gabinete e dizem-me: ‘Senhor ministro, desculpe lá, quer proletarizar esta profissão? Arranje uma maneira de fechar estas entradas, seja como for’”, referiu, citando o estilo de conversa dos representantes das ordens profissionais.
Para Mariano Gago, “conseguir libertar o país da tutela das ordens profissionais na entrada das profissões é um elemento fundamental, sobretudo em período de crise económica”. “O que se está a passar é uma canibalização do mercado de trabalho em torno das profissões qualificadas, em que os que estão instalados criam uma fronteira para ninguém mais entrar. Ou melhor, talvez entre o filho de um deles, pronto”, declarou o ministro da Ciência.
Noutro ponto polémico da sua intervenção, Mariano Gago afirmou ainda que “há um perigo eleitoralista que atinge todos os partidos – e este [o PS] também: Na hora da verdade há uma cedência à ideia de transformar os institutos politécnicos em universidades”. “É a ideia de que os politécnicos são uma espécie de Estado, como naquela história em que o girino passava a rã. Ora, o politécnico é o girino da universidade, depois passa a rã - e a universidade então é uma rã completa”, disse, recorrendo de novo à ironia.
De acordo com este membro do Governo, sem haver separação entre politécnicos e universidades, “com missões completamente distintas, não é possível continuar com o alargamento da base social do Ensino Superior”. “Provavelmente, nem sequer será possível fazer-se o enraizamento do conhecimento e da tecnologia no tecido empresarial”, sustentou.