Livre arranca congresso com disponibilidade “muito clara” para governar com PS

Partido está atento ao que se passa no PCP e no BE e promete não deixar escapar “sinais de abertura”. Se for preciso, adaptará o seu programa.

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Responder à situação financeira do país, que piorou com a troika, é o pretexto político concreto para concretizar a matriz de convergência que está no ADN do partido, resume a moção estratégica “Agora, o futuro”, a que se somam seis moções específicas propostas por membros e apoiantes. Na moção, proposta pela direcção, é reconhecida a necessidade de alargar o perímetro do debate, objectivo que o partido iniciou no Verão com uma ronda de diálogos por partidos e movimentos de esquerda. Se com a Associação Fórum Manifesto – que integra Ana Frago e Daniel Oliveira – o diálogo já deu frutos, reflectidos no compromisso de construção de uma plataforma política que se apresente às próximas legislativas, em relação ao PS, o Livre dá nota positiva ao que tem assistido. “Avaliamos positivamente a disponibilidade anunciada, dentro do PS, para governar com a esquerda e é nossa intenção levar essa disponibilidade a sério”, refere o documento.

Rui Tavares, fundador do Livre e ex-eurodeputado, explica ao PÚBLICO que o partido espera agora “a prova desse diagnóstico, que tem sido feito pelo PS, também por António Costa, de que não é possível governar contra a austeridade com os partidos da austeridade”. Agora, acrescenta Tavares, já não há razões para que a convergência não suceda, “porque existe um interlocutor partidário muito claro nessa disponibilidade”.

Ao longo das 17 páginas da moção é analisada a situação do país. Mas é no ponto 4 do documento - Por uma esquerda de convergência e governação – que a direcção do partido rejeita “o atavismo crónico” que não tem permitido à esquerda trabalhar em conjunto. “Na esquerda ouve-se isso há muitos anos. O Livre quer constituir esse pólo à esquerda do PS”, diz Rui Tavares. O objectivo é “derrotar eleitoral e politicamente a direita, o que significa pô-la na oposição e constituir uma frente progressista que substitua uma política austeritária”, acrescenta Tavares, a quem caberá encerrar esta tarde o congresso.

Face à permanência dos “piores cenários”, nomeadamente um governo de bloco central após as legislativas do ano que vem, “hoje talvez se entreveja uma nesga, uma possibilidade de fazer diferente” e que compete ao Livre alargar, define a moção estratégica.

Este congresso tem apenas um carácter ratificativo e não electivo, servindo para aprovar os documentos do congresso fundador no Porto, que se realizou ainda antes da legalização do Livre, em Março.

O partido, que obteve uma votação de 2,35% nas últimas europeias, já tinha definido as eleições para a Assembleia da República como o acto no qual dispensaria todas as energias. “Convergência não pode ser uma palavra oca, constantemente gasta em intenções que na prática nunca se concretizam. A convergência precisa de vontade política”, defendem, destacando a plataforma política em construção com a Associação Fórum Manifesto, liderada por Ana Drago, que em Julho se desfiliou do BE. Embora ainda não esteja definido o formato – acordo pré-eleitoral, apresentação conjunta a eleições ou acordo pós-eleitoral - , o movimento que resulte deve ter por objectivo “uma nova maioria” depois das eleições.

Com outros interlocutores na mira, prometem estar também atentos à evolução do debate político no BE, PCP e, claro, no PS. Ou seja, não deixarão passar “sinais de abertura e mudança que estes poderão demonstrar”. E o Livre está disposto a adaptar-se: “Adaptará, se necessário, o seu programa de trabalho a uma ainda maior abertura e participação dos cidadãos e organizações, tendo em vista a parceria a estabelecer com a Fórum Manifesto e outros movimentos políticos que se revejam nestes princípios e objectivos.”

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