Welcome to Trofa, disse Rangel a Juncker
Candidatos da coligação PSD/CDS saudaram a saída da troika. Rui Rio chegou à campanha.
À entrada do pavilhão, encontrava-se António Nogueira Leite que entregou aos candidatos o manifesto “Nunca Mais”, que recusa as políticas que levaram ao resgate. Um momento confuso, ao som de buzinas pressionadas por pessoas que protestavam contra os cortes nos apoios à educação especial. Já dentro do armazém, nos discursos da noite, Paulo Rangel escolheu saudar Juncker em inglês: “Like to welcome you to Trofa”. Mas os recados foram todos em português e destinados ao PS. “Em vez de fazerem propostas para a Europa, vieram hoje apresentar o pseudo-programa de Governo”, disse Rangel, considerando a iniciativa dos socialistas “inaceitável” e “escandalosa”. E desafiou os apoiantes a passarem a mensagem. “Trabalhámos ao longo de três anos, para repor a credibilidade. Tínhamos Sócrates a dizer que as dívidas não são para pagar são para se gerir. É esse o espírito socialista”.
Em dia de fim do programa de assistência, Nuno Melo saudou: “Adeus troika, viva Portugal”. “Acabou a humilhação”, disse o candidato centrista.
Não acreditem nos socialistas
Depois foi a vez do “bom amigo” de Portugal, Jean-Claude Juncker, ir ao palco discursar. O antigo presidente do Eurogrupo disse que Colombo – que identificou, erradamente, como português – era como os socialistas, gastou o dinheiro, não sabia para onde ia e quando chegou não sabia onde estava. Em resumo, “também era despesista” e alinhou o discurso pela maioria ao ver, “divertido”, a apresentação do programa de Governo do PS. O ex-primeiro-ministro luxemburguês disse que os “erros” que levaram Portugal à crise aconteceram antes de PSD/CDS assumirem o poder. E perguntando sobre se havia outra opção se não a da austeridade, Juncker sublinhou que o défice e a dívida “são problemas”. “Não acreditem nos socialistas”, disse, sempre em francês, à excepção das saudações iniciais e finais em que tentou fazer em português.
Como propostas para a Europa, Juncker garantiu que “nunca mais” aceita “que não se respeite a dignidade da Europa do Sul”. E prometeu: “Quero acabar com esta divisão idiota entre países do Norte e do Sul”.
Como em todas as iniciativas da Aliança Portugal com intervenções dos candidatos, é o hino nacional que fecha. No palco, todos cantaram. Mesmo Juncker mexia os lábios como se soubesse de cor toda a letra.
O político luxemburguês juntara-se, horas antes, à comitiva da Aliança Portugal numa fábrica da Maia. Chegou num carro azul, o típico da União Europeia, directamente do aeroporto Sá Carneiro. Se dúvidas havia, a inscrição no automóvel de campanha esclarecia: “Juncker For President, the youth is with Juncker [Juncker para Presidente, a Juventude está com Juncker]. No momento em que cumprimentava a comitiva, os ‘jotas’ da coligação levantaram cartazes que repetiam o slogan do automóvel e bateram palmas. Foi a recepção ao antigo presidente do Eurogrupo, na fábrica da Cerealis, na Maia, numa acção de campanha para a qual disse ter sido convidado a participar.
Aí, Jean-Claude Juncker assistiu a uma apresentação da empresa que manteve o investimento, mesmo durante a crise. E no final da visita fez o paralelo com o país. “Desde o início do resgate, Portugal fez um excelente trabalho, saiu com saída limpa, é altamente impressionante”, afirmou o candidato à liderança da Comissão Europeia apresentado pelo PPE – a família política de PSD e CDS –, apesar de reconhecer “as consequências” e os “sacrifícios” feitos pelos sectores “mais frágeis” da população.
Juncker não poupou nos elogios, mas também deixou alguns avisos. “Penso que Portugal está no bom caminho, voltou a conseguiu acesso aos mercados financeiros. Isto não ajuda os desempregados logo no primeiro segundo, mas acredito que a situação vai melhorar", declarou. Disse ter consciência de que, nesta fase, “as recomendações nem sempre são bem aceites” e que os “resultados estão aí, mas ainda não chegaram tão rapidamente às pessoas”.
Rui Rio também entrou na campanha
Ao lado de Nuno Melo, Paulo Rangel, Rui Rio e José Silva Peneda, presidente do Conselho Económico e Social, o antigo responsável do Eurogrupo sublinhou a necessidade de manter a consolidação orçamental e de a conciliar com o crescimento económico. Questionado sobre qual a pasta a atribuir ao futuro comissário português, Juncker remeteu a resposta para mais tarde: “Primeiro, gostaria de ser eleito presidente da Comissão Europeia, depois vem a segunda parte”.
O fim do programa de assistência financeira já tinha sido o mote dos discursos dos candidatos, durante um almoço com apoiantes, em Felgueiras. “Adeus troika, viva Portugal”, exclamou Nuno Melo. Paulo Rangel Rangel complementou: “Estamos a começar um tempo novo, o Governo já pode decidir sozinho o rumo do país”. Não faltaram trocadilhos com o antigo-primeiro-ministro socialista, assobiado na sala depois das palavras de Rangel: “A troika entrou e saiu José Sócrates. A troika sai e o PS quer meter o Sócrates”.
O ex-presidente da Câmara do Porto Rui Rio também apareceu no sexto dia de campanha oficial para apoiar os candidatos da Aliança Portugal. No final da visita à fábrica Milaneza, na Maia, o social-democrata foi questionado pelos jornalistas sobre se assinava o manifesto “Nunca Mais”, promovido por António Nogueira Leite e que rejeita as políticas que levaram à crise financeira e económica. “Normalmente os manifestos são de Lisboa. Nunca ninguém me falou disso”, respondeu, gerando uma gargalhada na comitiva.
Rui Rio, que foi colocado ao lado de Juncker – então já integrado na comitiva da Aliança Portugal – para prestar declarações aos jornalistas, aproveitou para deixar um elogio a Paulo Rangel e Nuno Melo. “O que está em causa é eleger os representantes portugueses para o Parlamento Europeu. Nesse caso não tenho dúvida que o Paulo Rangel e Nuno Melo bem como o Carlos Coelho, que já lá estão e que deram provas de que são excelentes deputados merecem lá estar”, afirmou.
O social-democrata esclareceu ainda as duas recentes declarações sobre o despesismo do Governo, garantindo que não se estava a referir ao actual. “Aquilo que disse é que no pós-troika, o país terá que perceber o que nos levou até aqui e que não comece a exigir dos governos – deste e de outro que venha – o que manifestamente ainda não se pode dar”, esclareceu.