Jornal de Angola acusa elites portuguesas de tentarem intimidar Angola

O editorial desta sexta-feira diz respeito às notícias de arquivamento do processo na PGR portuguesa que visaria o vice-presidente de Angola Manuel Vicente.

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Manuel Vicente, durante uma visita a Lisboa em 2009, quando ainda era presidente do conselho de administração da petrolífera nacional Sonangol Hugo Correia/Reuters

Na quarta-feira, numa nota intitulada "Vice-presidente de Angola - Manuel Vicente", a Procuradoria-Geral da República (PGR) veio esclarecer que o inquérito, para apurar "eventuais crimes de fraude fiscal, falsificação e branqueamento de capitais, relativo a diversas operações" visava afinal a empresa Edimo e que Manuel Vicente não é arguido nem foi suspeito no inquérito.

Hoje, o Jornal de Angola lamenta o título do comunicado da PGR, quando Manuel Vicente "não é arguido nem suspeito". Cumprimentando os magistrados do Ministério Público português por, na nota, se referirem apenas aos enteados de Manuel Vicente, sem os identificarem, o jornal lamenta que não tenha havido "o mesmo cuidado com altas figuras do Estado Angolano".

"Pelo contrário, julgaram-nas e condenaram-nas na praça pública de uma forma infame. É contra isso que os angolanos decentes estão. É isso que consideramos inaceitável", pode ler-se no editorial. Estimando que o mesmo não aconteceria se em causa estivesse um inquérito ao vice-presidente de um país da União Europeia ou dos Estados Unidos, o jornal acusa as "elites portuguesas ignorantes e corruptas" de "estacionarem no colonialismo mais retrógrado".

"Continuam a achar que os negros são seres inferiores e se têm uma camisa lavada é porque a roubaram. Quem tem amigos assim, o melhor é virar-lhes as costas e negociar até com o diabo ou dialogar com os inimigos". Para o editorialista, "é muito difícil dialogar com um país em que parece que ninguém se entende e estão todos virados para o tornar ingovernável".

"Dizem que o investimento é bem-vindo, mas atacam os investidores angolanos. O mesmo fizeram com Ângela Merkel e a Alemanha que meteram rios de dinheiro para salvar Portugal da bancarrota".

No editorial, o jornal acusa os magistrados do Ministério Público de, embora "ciosos da sua independência", serem "irmãos siameses dos que mais se distinguem nas calúnias e ataques à honra de cidadãos angolanos que nenhum Tribunal julgou ou condenou". E diz que os patrões dos órgãos de comunicação social, que apelida de "barões da droga", "esfregam as mãos de contentes quando os seus empregados disparam sobre os angolanos" por esperarem que isso "lhes dê vantagens nos negócios".

O jornal acusa ainda os jornalistas portugueses de usarem a carteira profissional "como licença para assassinar o carácter das suas vítimas angolanas na praça pública". Acusando as elites de tentarem intimidar os angolanos para estes deixarem de gerir com toda a soberania e independência o seu país, o editorial termina com um aviso: "Jamais nos deixaremos intimidar. Antes a morte que tal sorte! Assim falava Camões".

A actual tensão diplomática entre Portugal e Angola, que levou o Presidente angolano a anunciar recentemente a suspensão da parceria estratégica que pretendia criar com Lisboa, começou em Novembro do ano passado, quando o semanário Expresso noticiou a existência de um inquérito-crime no Ministério Público português contra altos dirigentes angolanos.

Na altura, o jornal falava em indícios de fraude fiscal e branqueamento e referia-se concretamente ao vice-presidente de Angola, Manuel Vicente, ao general Hélder Vieira Dias “Kopelipa”, chefe da Casa Militar da Presidência da República, e o general Leopoldino Nascimento “Dino”, consultor do ministro de Estado e ex-chefe de Comunicações da Presidência da República.