“Já estou registado, estou na turma dos repetentes”

Quarenta deputados do PS, PSD e CDS assumiram funções esta manhã. Passos e Portas já votaram nas bancadas da oposição.

Pedro Passos Coelho na bancada parlamentar do PSD
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Pedro Passos Coelho na bancada parlamentar do PSD Daniel Rocha
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Alguns caminhavam com o olhar perdido, outros davam passadas mais firmes nas passadeiras vermelhas que decoram os corredores à volta do hemiciclo. Foram 40 os deputados do PS, PSD e CDS que, esta sexta-feira, assumiram o seu mandato, uns em substituição de membros do Governo, outros porque deixaram de ser do Governo.

Foi preciso abrir novamente uma sala para fazer o acolhimento dos parlamentares que chegavam, como acontece no início de cada legislatura. À saída, um social-democrata que deixou agora funções governativas desabafava com humor: “Já estou registado, estou na turma dos repetentes”.

Outros “repetentes” como os ex-ministros Jorge Moreira da Silva (PSD) e Pedro Mota Soares (CDS) chegavam pouco antes do início da sessão plenária, às 10h00, e esperaram a sua vez para preencher a documentação. Estiveram na fila, atrás de alguns deputados do PS (21 ao todo) que também se preparavam para assumir o seu mandato, alguns pela primeira vez.

Dentro do plenário, o Presidente da Assembleia, Ferro Rodrigues, leu os nomes dos deputados que saíram e os que entraram em substituição dos que tomaram posse no Governo liderado por António Costa. “Agora sim, podem entrar”, indicou. Só depois reparou que alguns já o tinham feito e quis felicitar todos pelo mandato. “Faz de conta que não estavam”, disse.

Entre os que perguntavam a assessores onde era a sala do grupo ou a entrada para o plenário, estavam outros que não precisavam de indicações. Paulo Portas foi o primeiro dos dois líderes da nova oposição a chegar ao Parlamento. Andou quase sempre sozinho, não falou aos muitos jornalistas que o esperavam nos corredores e, depois de cumpridas as formalidades, entrou no plenário. Cumprimentou os seus – agora - colegas deputados e sentou-se na primeira fila da bancada do CDS.

Já Passos Coelho, que chegou mais tarde, quis deixar clara a posição de que veio para liderar a oposição.“Venho tomar conta do meu lugar”, disse aos jornalistas o líder do PSD, antes de entrar na sala de acolhimento, fazer o registo e até tirar uma fotografia no pequeno estúdio improvisado.

No mesmo banco, em pose para a objectiva fotográfica, já se tinha sentado o líder do CDS, que foi até agora o seu parceiro de coligação no Governo. “Exercerei o meu papel de líder do PSD na oposição. Já tinha sido presidente do PSD na oposição [entre 2010 e 2011] mas não era deputado”, afirmou, acompanhado de Luís Montenegro, líder parlamentar do PSD, do porta-voz do partido Marco António Costa e do secretário-geral Matos Rosa.

Para contrariar outros semblantes mais carregados, Passos Coelho deixou uma mensagem de aparente normalidade: “Encaro isto tudo com muita naturalidade”. Saiu acompanhado pelos dirigentes do partido, entrou no plenário e sentou-se na primeira fila da bancada do PSD. Assistiu ainda a parte do debate que estava a decorrer sobre a divulgação da Constituição nas escolas proposta pelo PCP e PEV, mas sobretudo participou nas votações.

Passos Coelho e Paulo Portas, na fila da frente das suas bancadas, levantaram-se contra medidas como o fim dos exames do 4º ano, proposto pelo BE e PCP, mas foram vencidos pela nova maioria de esquerda. A mesma maioria que chumbou o prolongamento dos cortes nos salários e da sobretaxa de IRS para 2016 proposta pelo PSD e CDS e fez aprovar requerimentos para baixar à comissão respectiva sem votação as contra-propostas do PS.

No final das votações, os dois líderes encontraram-se no corredor, cumprimentaram-se e saíram os dois sob os holofotes das câmaras de televisão. Estiveram reunidos cerca de meia hora na área da bancada do PSD. Só Paulo Portas regressou à sala da direcção do grupo parlamentar do CDS, onde se encontrou com Maria Luís Albuquerque, a ex-ministra das Finanças que assumiu o seu lugar de deputada.

O regresso dos antigos governantes obrigou também a alguns ajustamentos nas salas dos grupos, mas ainda não era certo se Passos Coelho teria algum gabinete. Não o pediu, pelo menos. Poderá é usar, quando for preciso, uma sala de reuniões, como fazia Marques Mendes quando era líder do partido.

Paulo Portas também não terá gabinete próprio, irá partilhar o espaço que pertence ao líder parlamentar do CDS. As salas de trabalho serão principalmente as das sedes dos partidos. É aí que Passos Coelho e Paulo Portas vão tecer a estratégia de oposição. Cada um na sua sede.  

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