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Bloco em risco de desintegração: Fórum Manifesto sai e UDP diverge

A quatro meses da convenção do partido, a bancada parlamentar está, pela primeira vez, partida ao meio. Objectivo dos líderes Catarina Martins e João Semedo de uma só moção até Novembro não será fácil de alcançar.

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O objectivo de ter uma moção única em Novembro parece cada vez mais longe Manuel Roberto

Pouco mais de um ano depois de Francisco Louçã, João Semedo e José Manuel Pureza terem pedido a diluição das três correntes fundadoras (UDP, PSR e Política XXI) e a abertura a uma nova etapa com a tendência Socialismo, surgiu outra tendência no interior do partido e há já quem fala de duas UDP’s. A Esquerda Alternativa foi registada no BE há cerca de dois meses – pouco tempo antes das eleições europeias - e parte do impulso de Luís Fazenda, fundador do partido e principal rosto da UDP. Mas muitos simpatizantes da “velha” UDP não aderiram.

Para compreender esta agitação interna ajuda distinguir correntes fundadoras (UDP, PSR e Política XXI) das agora denominadas tendências. A UDP é considerada como a corrente que sempre teve maior peso interno e mais força na disputa pelos lugares de representação. E nunca aderiu à Socialismo. Mas foi no interior da própria UDP que começou a nascer uma divisão, que viria a culminar na criação da Esquerda Alternativa. Além de Luís Fazenda, integram-na também o líder parlamentar, Pedro Filipe Soares, as deputadas Helena Pinto e Mariana Aiveca - somando metade da bancada –, ou Joana Mortágua, da comissão política.

Fonte próxima da direcção do BE explica ao PÚBLICO que “há agora duas UDP’s, estão divididas”. E que “Luís Fazenda, que sempre teve uma posição interna forte, percebendo a polémica, tentou esvaziá-la e criar outra”. Mas que polémica? “Luís Fazenda quis libertar-se dos seus velhos camaradas que acusa de serem adeptos de uma aliança com o PS”, diz um dirigente que pede para não ser identificado. O PÚBLICO tentou contactar Luís Fazenda e o líder parlamentar, mas não obteve resposta. Também João Semedo se escusou a comentar estas movimentações.

Semedo e Catarina Martins lançaram um apelo a todos os militantes para que se envolvam na preparação da próxima convenção, em Novembro. O primeiro debate é este domingo, no Porto. Uma moção única ao congresso e o mais abrangente possível seria o objectivo perfeito na óptica dos líderes.

Mas aparentemente não será fácil de alcançar, já que entre os 35 subscritores deste apelo não estão os apoiantes da Esquerda Alternativa. E é a primeira vez que isso sucede. Ficam assim de fora, para já, o líder parlamentar, Pedro Filipe Soares, o deputado Fazenda e as deputadas Mariana Aiveca e Helena Pinto. Nada mais, nada menos, do que metade da bancada parlamentar.

Na moção que levará à disputa pela distrital de Aveiro, o líder parlamentar atribuiu, aliás, os maus resultados consecutivos a uma “falta de clareza da linha política, assim como a perda da imagem de irreverência e combatividade”.

“Essa metade já não era da mesma corrente que os coordenadores, já eram da UDP. A novidade hoje é que Luís Fazenda quer deixar de incluir a maioria... Quer correr em pista própria, por isso não vão ao Porto”, diz um dirigente de primeira linha.

Manifesto desvincula-se
Como se não bastasse, a turbulência tornou-se flagrante com a decisão da Fórum Manifesto de se desvincular do partido. A decisão foi tomada em assembleia geral realizada sábado à tarde, em Lisboa, e foi justificada sobretudo por aquilo que é considerado o afastamento do BE da sua matriz e do seu eleitorado. “As derrotas consecutivas que o Bloco de Esquerda acumulou nos últimos anos, e que o conduziram à magra expressão eleitoral obtida nas últimas eleições europeias, não são um reflexo de factores externos”, mas resultado “da acumulação de erros não corrigidos, inscritos numa orientação política que divorciou crescentemente o BE do seu potencial eleitorado”, lê-se na resolução política agora aprovada.

E explica-se porquê: “Perante a opinião pública, o Bloco vincou, ao longo dos últimos anos, a imagem de um partido cada vez mais virado sobre si próprio, indisponível para o diálogo e para a convergência com outras forças políticas à esquerda; centrado no protesto, e por isso indisponível para estabelecer compromissos efectivos de governação; revelando uma insuficiente, inconsistente e até, por vezes, contraditória construção programática”.

Depois de lembrar que, na sua génese, o BE tinha “como compromisso matricial, o papel da construção de pontes e do fomento do diálogo entre as esquerdas”, a Manifesto entende que esse compromisso não foi cumprido, mas ainda pode ser. Para tal, vai promover, ao longo dos próximos meses, iniciativas concretas para a “formação de convergências forte e credíveis à esquerda do PS, com claros objectivos de influenciar a governação do país”, tendo como horizonte imediato as próximas eleições legislativas, previstas para 2015.

Ana Drago, o rosto mais conhecido do Fórum Manifesto e que já se tinha demitido da comissão política, está a preparar a sua saída do partido, avançaram ao PÚBLICO duas fontes da actual direcção. Os outros dirigentes historicamente ligados a esta corrente - Marisa Matias, José Manuel Pureza e José Gusmão - deverão permanecer no BE, pois já anteriormente tinham aderido à tendência Socialismo, criada recentemente pelos coordenadores Catarina Martins e João Semedo com o objectivo de chegar à Convenção de Novembro com uma só moção.

O PÚBLICO tentou falar com Ana Drago, mas até ao momento não foi possível. Já João Semedo foi peremptório: “Não vou reagir, não tenho nenhum comentário a fazer”. Entretanto, o BE divulgou uma nota de imprensa em que afirma que “anteriores posições de alguns membros do Fórum Manifesto já anunciavam a decisão hoje tomada”. E acrescenta: “O Bloco continuará empenhado em juntar forças, convicto que o impulso para dividir não reforça a esquerda”.

170 militantes pedem mais debate
Mas a insatisfação é transversal ao partido. Preocupados com as “consequências devastadoras” do predomínio das tendências, 170 militantes reagiram ao convite dos coordenadores do BE para o debate deste domingo. Assinam o manifesto “Por um BE renovado, participado e plural” Soares da Luz, João Teixeira Lopes, Pedro Soares, Helena Carmo, Mário Tomé, entre outros. Reclamam que é chegado o momento em que todos devem ser chamados a “debater o Bloco, o seu projecto, a sua política, a sua forma democrática e a sua direcção”.

Soares da Luz, dirigente do Bloco e um dos subscritores deste documento, confirma ao PÚBLICO que vai à reunião do Porto com a expectativa de que o “esqueleto das decisões não venha já definido, porque o BE não tem outra oportunidade” de recuperar a confiança do eleitorado. Outro dirigente olha para estas divergências como “duas superpotências em confronto, de um lado os apoiantes de Louçã e do outro os de Fazenda, porque quando não há respostas políticas claras, o que há é disputa de lugares”, afirma.

“Não queremos aderentes de primeira e de segunda”, diz o manifesto. Estes militantes reclamam a participação de todos nos processos de decisão, “sem que o pano de fundo desses debates e dessas decisões já esteja previamente traçado, articulado ou encaminhado”. Afirmam temer que as tendências sejam, na verdade, correntes de “alinhamento obrigatório” em que se faz “contagem de espingardas” e que subsista no interior do partido uma preocupação com o equilíbrio de representação nos assentos da direcção.

Mas nesta encruzilhada há até uma dezena de bloquistas que subscreve os dois documentos – ou seja, o apelo dos líderes e a resposta aos líderes.

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