Guterres deixa a ACNUR até ao fim do ano
O alto comissário da ONU para os refugiados já viu o seu segundo mandato prolongado por seis meses.
"Ele está de saída. O mandato termina no final de Dezembro", disse esta sexta-feira a porta-voz de Guterres, Melissa Fleming, à Reuters, acrescentando que já não é renovável.
A ex-primeira-ministra dinamarquesa Helle Thorning-Schmidt apresentou esta sexta-feira a candidatura à sucessão de António Guterres no cargo. A candidatura foi apresentada em Copenhaga, numa conferência de imprensa conjunta de Thorning-Schmidt com o atual primeiro-ministro dinamarquês, o liberal Lars Lokke Rasmussen, no cargo desde Junho, na sequência das legislativas.
Thorning-Schmidt, de 48 anos, dirigiu o executivo dinamarquês entre 2011 e 2015, e liderou o Partido Social-Democrata durante uma década, posto que abandonou na noite da derrota eleitoral.
No outono passado, o Governo de centro-esquerda que Thorning-Schmidt liderava foi criticado pelo ACNUR depois de ter aprovado uma reforma das leis de concessão de asilo, que dificulta o reagrupamento familiar e concede autorizações de residência temporárias, de um ano, aos refugiados.
António Guterres tornou-se Alto Comissário das Nações Unidas para Refugiados em 15 de Junho de 2005 e foi reeleito cinco anos depois para um segundo mandato, que terminava em Junho deste ano. No entanto, a Assembleia-Geral da ONU decidiu em Fevereiro prolongar o seu mandato até ao final de 2015, por recomendação do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon.
Guterres sai numa altura em que a Europa enfrenta a maior crise de refugiados desde a II Guerra Mundial. Antes de anunciar a sua saída na sexta-feira, o alto comissário defendeu que a União Europeia deve fazer "mudanças fundamentais" na política para acolher refugiados, defendendo que esse número deve chegar aos 200 mil.
A saída da ACNUR não deve, no entanto, indiciar que Guterres possa ainda vir a ser candidato à Presidência da República. Em Abril, António Guterres colocou-se completamente de fora da corrida a Belém numa entrevista dada à televisão Euronews. “Não sou candidato a ser candidato. Sempre me interessei pelo serviço público e pretendo continuar a fazê-lo, mas o que gosto mais de fazer é o tipo de função que tenho actualmente, que permite ter uma acção permanente e directa a sobre o que se passa no terreno”, diz o antigo governante, sugerindo que podia avançar para a liderança da ONU.
Em Janeiro, Guterres tinha dito ao Expresso que era livre de decidir a sua vida e o PÚBLICO adiantou que já teria recusado o convite três vezes.