Freeport: Primo de Sócrates nega "qualquer actividade ilícita"

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Hugo Monteiro, 33 anos, encontra-se há um mês na China, onde frequenta um curso de artes marciais Rui Gaudêncio/PÚBLICO

"Nem eu nem o meu pai recebemos qualquer suborno ou estivemos envolvidos em qualquer actividade ilícita" relacionada com o Freeport, disse Hugo Monteiro à Lusa. "Muito em breve, as investigações vão concluir isso e tenho até a impressão que já concluíram".

Hugo Monteiro, 33 anos, encontra-se há um mês na China, onde frequenta um curso de artes marciais.

Questionado pela Lusa em Pequim sobre se receia vir a ser judicialmente acusado, Hugo Monteiro respondeu: "Absolutamente nada. Não recebi dinheiro nenhum e isso é extremamente fácil de comprovar".

"Sou o primeiro a dizer: investiguem", acrescentou.

Sobre um e-mail enviado à consultora Smith&Pedro, que trabalhava com os proprietários do centro comercial Freeport, apresentando um projecto de marketing para o outlet, Hugo Monteiro disse: "Admito que tenha mencionado o grau de parentesco" com José Sócrates.

Segundo adiantou, tratava-se de um "projecto para a área de eventos" e foi apresentado em 2005, antes de o Partido Socialista (PS) ganhar as eleições e o seu primo ser nomeado primeiro-ministro.

Hugo Monteiro referiu também que chegou a encontrar-se com "um director de marketing do Freeport", mas o seu projecto não foi aceite. "Nem sequer responderam", afirmou.

Hugo Monteiro só tenciona regressar a Portugal "em meados de Dezembro". "Para se aprender bem, o mínimo é um ano", disse, referindo-se ao curso de artes marciais que está a frequentar em Shaolin, centro da China.

“Abuso de confiança”, disse o primeiro-ministro

Já na semana passada, o tio do primeiro-ministro, Júlio Monteiro, confirmara que o filho teve uma reunião com os responsáveis do Freeport, na sequência de um e-mail no qual invocava ser familiar de José Sócrates.

Num comunicado, o tio de Sócrates reconheceu "não ter sido correcto" invocar o parentesco com o então ministro do Ambiente e actual primeiro-ministro para conseguir uma reunião, mas sublinhou que as intenções do filho Hugo Eduardo Monteiro "não passavam disso mesmo: conseguir uma reunião e apresentar pessoalmente o projecto da sua empresa para a campanha de marketing do outlet".

O primeiro-ministro classificou a atitude do primo como "abuso de confiança ilegítimo e inadmissível".

"Se existe, como dizem que existe - eu não conheço - um e-mail de um filho do meu tio para o Freeport reclamando uma qualquer vantagem para si invocando o meu nome, considero isso um abuso de confiança. E considero que essa invocação é completamente ilegítima e inadmissível", afirmou o primeiro-ministro.

Afirmando ter "afecto e estima" pelo seu tio, Júlio Monteiro, que reputou de "pessoa séria e íntegra", deixou claro não ter "nada a ver com as actividades empresariais" do tio.

Na quinta-feira passada, a directora do Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP), Cândida de Almeida, revelou ser possível que o tio de José Sócrates seja "ouvido nos próximos dias" no âmbito do caso Freeport para esclarecer afirmações ao semanário Sol sobre a sua intervenção num alegado encontro em 2002 entre um promotor do empreendimento e José Sócrates.

O processo relativo ao espaço comercial do Freeport de Alcochete está relacionado com suspeitas de corrupção no licenciamento do outlet e na alteração à Zona de Protecção Especial do Estuário do Tejo (ZPET), decidida três dias antes das eleições legislativas de 2002 através de um decreto-lei, quando José Sócrates, actual primeiro-ministro, era ministro do Ambiente.