Desacato no Rato

Em Novembro de 2012, escrevi aqui:

O consenso sobre Seguro diz que ele é, e uso aqui o termo técnico de engenharia, uma parede. Que não tem uma única ideia e que está basicamente (‘basicamente’ nos dois sentidos: de ‘essencialmente’ e de ‘como um básico’) à espera que chegue a sua vez de ser primeiro-ministro. (…)

Mas não é verdade. Seguro até tem ideias. Tem uma ideia, vá. Mas chega-lhe. A ideia é que se a recessão económica é negativa, então vamos pelo crescimento económico, que é positivo. Pronto, este problema está resolvido, podemos ir almoçar.

Eis a Doutrina Tozé Seguro. (…) É uma ideia simples, mas tão poderosa que substitui um programa político. E mesmo um programa de vida, já que tem aplicação universal:

Viver mal é maçador, viver bem é agradável.

Desemprego é negativo, positivo é o emprego.

Tristeza é má, alegria é que é boa.

Estamos a perder? Então vamos ganhar!

Ter borbulhas é feio, opte-se antes por ter pele lisa.

Chove e isso molha. Faça-se sol.

Tenho 1,67, mas vou passar a ter 1,85.

Levar com um pau nas costas aleija. É preferível não levar para não doer.

Ser pobre é pior do que ser rico.

Dificuldades devem ser substituídas por facilidades.

Entre um pneu careca e um novo, escolha o segundo.

Parecem verdades óbvias. E são. Estes truísmos podiam ser da autoria de António José Seguro. Ou de uma criança de sete anos. É justamente esse o ponto forte de Seguro: quem é que não gosta de crianças? E o povo português começa a tratar Seguro como uma criança, não ligando ao que ele diz.

Agora, substitua António José Seguro por António Costa. É isto que o PS tem para oferecer: a escolha entre dois alquimistas que prometem criar riqueza a partir do ar.

Esta semana soube-se que a cultura está com António Costa. Mas os seus apoios são mais vastos. Tenho a certeza de que a agropecuária também apoia Costa. Um homem que olha para vacas magras e sentencia, com convicção, que afinal se trata de vacas gordas, só pode ser o candidato predilecto dos criadores de gado. Engordar uma manada por decreto, eis a marca de um líder socialista. Mal posso esperar por Setembro para saber quem vai conduzir o país à próxima época de prosperidade.

É Jorge Coelho quem vai supervisionar o processo de escolha. Estou entusiasmadíssimo. Afinal, foi Jorge Coelho que proclamou: “Quem se mete com o PS leva!” Ora, sucede que, neste momento, António Costa se está a meter com uma parte do PS. Por outro lado, António José Seguro está a meter-se com a outra parte do PS. Logo, segundo Jorge Coelho, ambos devem levar. É por isso que a melhor maneira de resolver isto é à porrada. Cabe a Jorge Coelho organizar um combate de boxe entre Seguro e Costa. A Maria de Belém põe um biquíni e anuncia os assaltos. Antes do combate principal, haverá uma luta de pesos-mosca para aquecer o público: a fratricida bulha entre Galambas.

Falta só um título para promover a refrega. Tipo Thrilla in Manila ou Rumble in the Jungle. Eu sugiro Desacato no Rato.     

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