Críticos de Portas impedidos de debater moções ao congresso
Corrente crítica da direcção do CDS queixa-se de ter sido afastada das sessões de apresentação da moção do líder.
O líder do CDS pediu às distritais do partido para organizarem sessões de apresentação da sua moção ao congresso do próximo fim-de-semana. No e-mail enviado no final de Dezembro às estruturas distritais, Paulo Portas fazia essa solicitação aos presidentes das distritais “considerando a importância do debate interno”.
As sessões começaram a ter lugar no passado sábado e prolongam-se ao longo desta semana. Vários congressistas que subscrevem a moção do Movimento Alternativa e Responsabilidade (MAR) – o primeiro é Filipe Anacoreta Correia - propuseram-se apresentar o texto nessas sessões, mas foi-lhes sugerido que marcassem outra reunião.
José Graça, antigo secretário-geral adjunto do CDS e subscritor da moção de Anacoreta Correia, propôs-se ir no passado sábado à reunião de Viana de Castelo (realizada em Ponte de Lima). “Primeiro disseram-me que sim, depois foi-me dito que era só para a moção de Paulo Portas e não era para debater outras, e acabaram por me dizer que era melhor não ir e marcar uma sessão noutro dia”, relatou José Graça ao PÚBLICO. Abel Baptista, presidente da distrital de Viana do Castelo, confirma que mostrou disponibilidade para marcar outra reunião noutro dia para a moção do MAR e garante que a organização das reuniões não foi daquela estrutura mas sim dos apoiantes de Portas. "Não há nenhum tipo de discriminação", disse o dirigente distrital e deputado.
Já na sessão da distrital do Porto, marcada para a próxima quinta-feira, o centrista pediu para apresentar a moção do Alternativa e Responsabilidade e não recebeu resposta. “É grave porque revela a cultura do partido”, afirma, referindo que “parece que Paulo Portas quer debater, mas as distritais, à cautela, acham que é melhor não”.
Em Viana do Castelo, a apresentação da moção de Portas ficou a cargo de Diogo Feio, eurodeputado que também subscreve uma moção global sobre Europa, em conjunto com Nuno Melo, vice-presidente do partido. No Porto é João Almeida, porta-voz do CDS, e ele próprio subscritor de uma outra moção, que dará a conhecer o texto de Portas.
Miguel Alvim, do MAR, também contesta o modelo de debate escolhido por Portas e promete estar amanhã, em Lisboa, na reunião de delegados ao congresso. O PÚBLICO sabe que elementos do MAR pediram à distrital para haver debate sobre a sua moção, mas até agora não obteve resposta. “É espantoso, é de quem não quer debater”, afirma, sustentando que deviam ser discutidas “todas as moções”.
O facto de a apresentação do texto de Portas ser feita por dirigentes que subscrevem outras moções “é a menorização cabal de todos os outros subscritores”, afirma Miguel Alvim, sugerindo que essas moções sejam “integradas” na moção do líder do CDS e assim prescindirem da apresentação pública no congresso para “dar espaço” ao debate.
Fonte da direcção do CDS refere ao PÚBLICO que as sessões pedidas às distritais foram realizadas a pedido Paulo Portas, enquanto candidato a líder do partido, e que qualquer candidatura pode solicitar reuniões ou debates sobre a moção que apresenta ao congresso. A mesma fonte disse que até agora nada foi pedido nesse sentido.